Título: Datafolha e Sensus registram queda de Alckmin e vitória de Lula no 1º turno
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2006, Política, p. A6

Duas novas pesquisas, divulgadas ontem colocaram em estado de alerta o comando da campanha tucana. A primeira delas, divulgada pela manhã e realizada pelo instituto Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), registrou uma queda de 7,5 pontos percentuais do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), constatando a maior diferença entre o desempenho do tucano e o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde maio. Nesta pesquisa, Lula sobe para 47,9%, Alckmin cai para 19,7% e Heloísa Helena sobe para 9,3%. A sondagem foi feita entre 1 e 4 de agosto com 2 mil entrevistas e uma margem de erro de três pontos percentuais.

A segunda, do Datafolha, divulgada à noite pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, também traz queda do candidato tucano, ainda que menos acentuada. De acordo com o instituto, Alckmin perde quatro pontos percentuais estando hoje com 24%. Lula ganha três e chega a 47%. O desempenho do petista parece escorado na avaliação de governo. O percentual dos que avaliam seu governo como ótimo e bom passou de 38% em julho para 45% em agosto.

A candidata do P-SOL, Heloísa Helena, dobrou seu percentual de votos entre junho e agosto. Passou de 6% para 10% em julho e 12% em agosto. Esta pesquisa foi feita entre os dias 7 e 8 de agosto com 6.969 entrevistas e uma margem de erro de dois pontos percentuais.

Entre as duas pesquisas, a diferença entre os dois candidatos que era semelhante - 17 e 16 respectivamente no Sensus e no Datafolha - descolou-se. Hoje o Sensus registra que 28 pontos percentuais separam o tucano de Lula enquanto, no Datafolha, a diferença é de 23 pontos. Ambas confirmam a perspectiva de vitória petista no primeiro turno.

Cautelosos, os tucanos argumentaram que não houve fatos que justificassem a queda de Alckmin. Mas, na expectativa dos resultados do Datafolha, demonstravam preocupação. "Se o resultado se repetir, vamos começar a nos preocupar e vamos à luta", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Antes de tomar conhecimento do resultado do Datafolha, o candidato do PSDB desqualificara o resultado da pesquisa CNT/Sensus. "Eu não levo a sério. Só trato de assuntos sérios. É uma boa piada. Pesquisas internas do partido, segundo o candidato, apontam uma estabilidade do quadro eleitoral. "É preciso todo cuidado com pesquisa. Ela retrata o momento, é estatística, tem margem de erro grande", disse Alckmin no Rio. O tucano acredita que chegará ao segundo turno. "A pesquisa que vale é a das urnas. Se dependesse de pesquisa, o governador de São Paulo seria o Paulo Maluf, não eu".

A CNT/Sensus aponta queda do candidato tucano em todas as regiões, nesse último mês, sendo a maior delas no Sudeste: de 33,4% em julho, o tucano teve, agora, 21,6%, caindo 11,8 pontos.

Na pesquisa divulgada ontem, Lula continua tendo mais votos que a soma dos seus adversários, o que lhe garantiria a eleição em primeiro turno, se o pleito fosse hoje. Num eventual segundo turno, a vantagem dele em relação a Alckmin também aumentaria. O presidente, que tinha 48,6% em julho, agora teria 52,5%. O tucano, que tinha 35,8% em julho, receberia agora 29,8% dos votos disputando o segundo turno com Lula. Levados em conta apenas os votos válidos, o presidente teria 60,5% no primeiro turno.

"Não sou de desacreditar em pesquisa, mas essa está estranha. Não acredito nela. Ela não faz sentido", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). "Tenho certeza de que não caímos tanto", disse o coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Os tucanos estranharam as divergências entre os resultados da pesquisa CNT/Sensus e os dos outros institutos. Segundo eles, nas pesquisas encomendadas para avaliação interna da campanha o desempenho de Alckmin tem se mantido estável, em torno de 30%.

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB) não demonstrou preocupação com as pesquisas. "Estou sereno, muito tranqüilo", comentou. "Ainda estamos longe do desfecho desta eleição, independente dos números da pesquisa." O governador argumentou que o cenário tende a mudar a partir da próxima semana, com o início do horário eleitoral gratuito. "Temos aí uma possibilidade dele (Alckmin) se tornar universalmente, vamos colocar assim, conhecido da população brasileira", declarou ele, ressaltando que o presidente Lula já é bem conhecido de todo o povo. Na Sensus, o percentual de eleitores que dizem desconhecer Alckmin cresceu de 7,1% para 9,3%.

A expectativa dos tucanos é de mudança substancial no quadro apenas com o programa eleitoral gratuito no rádio e na televisão, que começa no dia 15. Alckmin terá 3,5 minutos a mais que Lula por dia de tempo. Os primeiros programas deverão ser dedicados à apresentação do candidato ao eleitor.

Hoje, o conselho político da campanha de Alckmin reúne-se em Brasília para avaliar a situação da candidatura. Tasso Jereissati disse que a queda só é preocupante depois que Alckmin for conhecido de 85% a 90% do eleitorado. Isso só aconteceria com 10 programas de televisão e depois que todo o interior do país tiver material de publicidade da campanha. A ordem do comitê é que esse material chegue em todas as capitais do Norte e Nordeste até amanhã. Serão abertos comitês em todas as capitais do Norte e Nordeste. Até agora só funcionam em Fortaleza e no Recife.

Tasso está convencido de que houve erros na pesquisa do Sensus e acha que a do Datafolha mostra variações normais da campanha. Disse que, neste caso, a queda pode ser atribuída à nova onda de ataques já que a pesquisa foi feita ontem e anteontem. Tasso disse que não há dados preocupantes no Datafolha e que a perspectiva do comando da campanha era a de chegar com 25% a 30% na boca do horário eleitoral. O Datafolha de ontem traz 24%.

Tucanos chegaram a relacionar, reservadamente, a queda acentuada na CNT/Sensus aos interesses do presidente da entidade Clésio Andrade, cuja mulher foi preterida pelo PSDB em favor do PFL na vaga para a disputa ao Senado.

O diretor do Sensus, Ricardo Guedes, levantou três hipóteses para a queda do tucano. Primeiro, falta de eficiência do seu desempenho na mídia - se essa hipótese for correta, sua situação pode, em tese, até piorar com o horário gratuito. A segunda hipótese levantada por Guedes é que os votos do tucano estariam migrando para a candidata do P-SOL, a senadora Heloísa Helena (AL), numa espécie de voto de protesto, por causa da expectativa da vitória de Lula. Segundo a pesquisa, essa expectativa é de 59,3% dos eleitores.(Colaboraram Janaina Vilela, do Rio, e Ivana Moreira, de Belo Horizonte)