Título: Receita para elevar investimento é controversa
Autor: Machado,Tainara
Fonte: Valor Econômico, 17/04/2012, Empresas, p. B10

Aumentar o investimento público é condição essencial para estimular o crescimento não apenas em 2012, mas no longo prazo, argumentam economistas de diversos matizes convidados a debater a situação da indústria e os caminhos necessários para que o setor volte a ser competitivo. Para tanto, afirmam, é preciso que o governo contenha as despesas de custeio da máquina pública e abra espaço para aumentar sua capacidade de investir, além de propiciar a convergência da taxa básica de juros para patamares praticados por outros países em desenvolvimento. Para além do investimento público, contudo, o restante da receita para crescer é mais controverso.

Para o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, Luiz Fernando de Paula, é necessário ainda eliminar os resquícios de indexação da economia, como a existência de títulos públicos remunerados pela Selic, herança dos tempos de hiperinflação.

Para Paula, o governo tem ainda a tarefa de consertar os preços fundamentais da economia brasileira: juros e câmbio. Para isso, o economista defende intervenção maior do governo no mercado de câmbio, para assegurar que o real fique menos valorizado ante o dólar, ainda que a custa do Investimento Estrangeiro Direto (IED).

"Um controle de capital mais generalizado poderia ter impacto no IED, mas a dificuldade é avaliar quais são os custos e benefícios", afirma Paula "Se for recompensado por maior eficácia, com câmbio em nível mais interessante, acho que pode ser um risco interessante a correr." Para Paula, o risco de fuga de capital com intervenção mais pesada do governo no mercado de câmbio é pequena: "Fugir para onde, para a Europa?"

Silvia Matos, doutora em economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e coordenadora do Boletim Macroeconômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), diz que a taxa de câmbio depende essencialmente dos termos de troca, com influência dos preços elevados das commodities no mercado externo para a valorização do real. Controles mais pesados, afirma, teriam efeitos colaterais adversos.

Silvia argumenta que além do aumento dos investimentos públicos, é necessário também retomar reformas para que o país volte a ter ganhos de produtividade. O problema que a economista enxerga é a falta de coordenação e vontade política para levar adiante essa agenda. "O Ministério da Fazenda está perdido. As medidas são pontuais, geram desequilíbrios e não embutem visão de longo prazo", diz.

Para Silvia, o governo deve refrear a concessão de estímulos neste ano, principalmente para o consumo, para não correr o risco de que o país chegue ao fim do ano com um cenário de estagflação - crescimento moderado e inflação elevada - já que expansão mais forte baseada no setor de serviços e na construção civil teria como efeito novo repique dos preços e elevação do déficit em conta corrente.

Promover expansão por esses canais "seria repetir os erros de 2010", diz Silvia "O governo não deveria afundar o pé no acelerador, sob o risco de ter que pagar a conta com crescimento menor no ano seguinte, como ocorreu em 2011." A seguir, os principais trechos das entrevistas.