Título: Tesouro quer indexador único para toda a dívida longa
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2006, EU & Investimentos, p. D1

O Tesouro Nacional para fazer o mercado migrar para um indexador só para a dívida de longo prazo, que é o IPCA, explica Paulo Valle, secretário-adjunto da Dívida Pública Federal. "Não vemos sentido em ter vários indexadores e o IPCA hoje é referencial para a meta de inflação do Banco Central e é mais fácil de estimar", afirma ele. Além disso, muitos fundos trocaram seu referencial do IGP-M para INPC ou IPCA, o que incentiva a troca. "Ficava difícil criar uma curva de juros para papéis em inflação com dois tipos de indexador", diz.

O Tesouro parou de vender papéis em IGP-M em junho e, desde então, quem tem os títulos pode ficar com eles ou trocá-los nos leilões promovidos pelo governo. No caso do Tesouro Direto, o governo garante a recompra. Valle diz que o objetivo do Tesouro é reduzir a dívida em Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), indexadas aos juros do overnight, e aumentar os papéis indexados à inflação e prefixados. Hoje as LFTs representam 42,5% da dívida do governo, para 21,7% em inflação e 31,4% em prefixados. Em junho, o total em NTN-C, indexada ao IGP-M, era de R$ 64 bilhões. Já as NTN-B atingiam R$ 143 bilhões. Em dezembro de 2002, eram R$ 56 bilhões em NTN-C e R$ 9 bilhões em IPCA.

Com o incentivo do Tesouro, há uma migração dos investidores institucionais do IGP-M para o IPCA, preocupados com a liquidez dos papéis no mercado, afirma Marcelo Assalin, diretor de Investimentos da SulAmérica Investimentos. "A maioria das empresas de previdência mudou as metas atuariais para INPC ou IPCA e precisa atrelar os investimentos a esses compromissos, explica". Mas, ao mesmo tempo, muitas seguradoras e empresas de previdência aberta têm ainda planos antigos corrigidos pelo IGP-M, o que cria uma dificuldade gerencial séria. "Muitos ainda recebem contribuições dos clientes e outros têm os pagamentos semestrais de juros dos papéis em IGP-M, que precisam ser reaplicados e não encontram títulos no indexador", diz.

As empresas tentam convencer os investidores a mudar de indexador ou plano, mas se não conseguem, acabam ficando com o risco do descasamento entre o IGP-M e outros indexadores. Segundo dados da Associação Nacional da Previdência Privada, os fundos tradicionais representavam em junho 35% dos investimentos do setor, ou R$ 31,5 bilhões, parte considerável ainda indexada ao IGP-M.

Uma alternativa para esses fundos são as debêntures de empresas, mas também nelas o IGP-M é cada vez mais raro, diz Luiz Fernando Resende, vice-presidente da Anbid. Em 2006, 99,8% das emissões foi em CDI, número que era de R$ 92,2% em 2005 e 70% em 2004. Segundo Resende, depois das perdas recentes, o investidor não quer saber de IGP-M, mas ainda não há uma demanda que justifique emissões em IPCA. "O CDI por enquanto é imbatível", diz. (AP)