Título: PF, uma corporação ruim de voto
Autor: Prates, Maria Clara
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2010, Política, p. 13

Considerada uma das instituições mais respeitadas do país, a Polícia Federal só conseguiu eleger dois deputados federais

Belo Horizonte A alta credibilidade da Polícia Federal (PF), considerada uma das instituições mais respeitadas do Brasil, segundo pesquisas de opinião, não se traduziu nas urnas para 10 candidatos da corporação que disputaram cadeiras na Câmara dos Deputados e em assembleias legislativas. Dois delegados Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) e Fernando Francischini (PSDB-PR) saíram vitoriosos da disputa eleitoral, além de três policiais que disputaram assento no Legislativo do Espírito Santo, do Maranhão e do Piauí. E pior. A PF, que nunca conseguiu se fazer representar significativamente na política, ainda perdeu lideranças importantes, como o deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) e o senador Romeu Tuma (PTB) policial civil de São Paulo que dirigiu a PF por vários anos e ganhou o apelido de xerife do Brasil. Os dois não conseguiram se eleger.

A aproximação da população com a PF fortaleceu-se a partir das inúmeras operações policiais de combate à corrupção. As ações não pouparam nem mesmo os maiores cacifes políticos do país, como a cúpula petista do primeiro governo Lula na Operação Mãos Limpas. Quem pode ter se beneficiado de alguma forma com essa eficiência foi o delegado Protógenes Queiroz. Em uma megaoperação, ele prendeu o banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Oportunity, por suspeita de corrupção. Durante meses, Protógenes ocupou as manchetes de jornais e, apesar de toda a visibilidade, para chegar à Câmara dos Deputados, precisou contar com ajuda do palhaço Tiririca, que teve 1,3 milhão de votos. Protógenes está afastado de suas funções na PF depois de uma acusação de fraude processual, escutas ilegais e vazamento de informação.

Ação internacional O delegado federal Fernando Francischini (PSDB/PR), lotado à época na Divisão de Combate ao Crime Organizado da PF de São Paulo, foi o responsável pela prisão do traficante colombiano Juan Carlos Abadia em julho de 2007, um caso de repercussão internacional. A prisão do homem apontado como o responsável pelo envio de toneladas de droga para a Europa e para os EUA não garantiu uma grande exposição a Francischini, mas a sua atuação como secretário municipal antidrogas de Curitiba pode ter sido fundamental para convencer o eleitorado, de acordo com cientistas políticos. Marinheiro de primeira viagem na política, Francischini angariou em torno de 130 mil votos, cerca de 40 mil a mais que o colega Protógenes, que teve pouco mais de 90 mil.

Nem mesmo a estreita ligação com José Serra e a presidência da badalada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das escutas clandestina foram capazes de garantir a reeleição do delegado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ. Itagiba, que se elegeu pela primeira vez pelo PMDB, foi braço direito de Serra na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e comandou a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Este ano, teve participação importante para tentar convencer a ala divergente do PMDB, a do governador Sérgio Cabral, a abandonar Dilma e apoiar Serra. A empreitada foi em vão com a esmagadora vitória do peemedebista.

O número 130 mil Quantidade de votos conquistados pelo delegado Fernando Francischini

O número 10 Quantidade de profissionais da Polícia Federal que disputaram as eleições para o Congresso e para assembleias legislativas