Título: Fundo americano Cornell deve tornar-se sócio da Paranapanema
Autor: Durão, Vera Saavedra e Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2006, Empresas, p. B1

A Paranapanema deve se utilizar de dois mecanismos diferenciados para reestruturar parte de seu passivo de cerca de R$ 1 bilhão em debêntures.

Um deles prevê a entrada da Cornell Capital Partners, uma empresa americana especializada em financiar companhias com recursos de investidores por meio de um modelo inédito. Uma outra operação pode incluir uma estruturação de recebíveis com lastro na fábrica da Eluma, uma das quatro subsidiárias operacionais da holding de mineração. Nas duas operações, segundo apurou o Valor, a empresa espera levantar recursos de cerca de R$ 180 milhões.

O objetivo é capitalizar a holding na sua operação de reestruturação societária que inclui resgate e conversão em ações de parte do R$ 1,01 bilhão, devido em debêntures a Previ, Sistel, Aerus, Petros e BNDES. O acordo que vem sendo costurado entre a empresa e os debenturistas prevê uma nova operação em três etapas, de valor fixado, em princípio, de R$ 350 milhões cada.

Na primeira delas haveria o resgate e pagamento de acionistas, incluindo também recursos da holding. Na segunda haveria conversão em ações, e na terceira, uma tranche na qual os debenturistas ainda manteriam uma parte da dívida alongada por 10 anos.

Parte dos recursos para a capitalização da Paranapanema virá por meio de um novo tipo de operação no mercado de capitais, na qual a Cornell se comprometerá a comprar até R$ 80 milhões de novas ações preferenciais da Paranapanema em até dois anos.

A aquisição dos papéis é feita mensalmente, com base na cotação dos últimos dez dias anteriores à subscrição dos papéis. Sobre esse valor, a Cornell tem um desconto de 5%. Por isso não é possível determinar quanto ela passará a deter da Paranapanema. Com base na cotação de ontem (R$ 15,2 por papel PN), o desembolso da Cornell equivaleria a 17,36% das ações sem direito a voto da companhia ou 7,5% do capital total. Se as ações se desvalorizarem, passará a deter uma fatia maior. Caso contrário, fica com uma participação menor.

O Valor apurou que a quantia investida pela Cornell poderá dobrar. Inicialmente, a empresa previa investir o equivalente a US$ 80 milhões. Porém, com o período de turbulência nos mercados a partir de maio, o valor foi reduzido. A Cornell já investiu em operações de financiamento cerca de US$ 800 milhões em companhias nos EUA, Reino Unido e Austrália.

Além de ganhar com o desconto dado às ações, a Cornell também analisa nas companhias a possibilidade de lucrar com a valorização dos papéis.

Segundo fonte ligada a um dos debenturistas, a negociação está em curso, mas não foi concluída ainda. "Não está fechada, estamos analisando, mas os valores relativos aos aportes da Cornell e da securitização de recebíveis imobiliários com lastro na planta da Eluma poderiam dar um fôlego a empresa no processo", avalia a fonte.

Uma das séries de debêntures venceu no fim de 2005, mas a empresa informou na época que tinha firmado acordo com o BNDES prolongando o prazo até o fim do semestre passado, prazo no qual esperava finalizar a reestruturação. No entanto, o processo ainda não foi concluído. O BNDES informou que não pode comentar o assunto, que está sob sigilo. A Paranapanema também não quis comentar as informações.

Segundo fontes, a expectativa inicial era tentar fazer a reestruturação da dívida via migração para o Novo Mercado da Bovespa e uma operação de ações, para melhorar sua estrutura de capital. No entanto, os envolvidos no processo não sabem se o plano poderá ser de fato desenvolvido em paralelo, devido às condições de mercado, embora a ida para Novo Mercado permaneça como um objetivo. Hoje, a empresa deve divulgar seu balanço do segundo trimestre. A expectativa é de bom resultado, com a alta do cobre, produzido pela Caraíba, principal empresa da holding, que ainda produz estanho.