Título: Só bancos europeus apóiam a Vale
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/08/2006, Empresas & Tecnologia, p. B9
Bancos americanos ficaram de fora do pacote de empréstimos para a Vale do Rio Doce porque a maior parte das instituições está comprometida com as várias ofertas de aquisição de mineradoras canadenses. O JP Morgan, por exemplo, está com a Xstrata. O Citi, com a Phelps Dodge; a Merrill Lynch, com a Teck Cominco e o Goldman Sachs e o Morgan Stanley com a Inco. Quatro bancos europeus se comprometeram a financiar a Vale na aquisição da Inco: os suíços Credit Suisse e UBS, o espanhol Santander e o holandês ABN Amro. Cada um deles deve conceder um empréstimo de US$ 4,5 bilhões, com prazo de dois anos.
O desenho da operação de oferta da Inco pela Vale, anunciada na sexta-feira, foi levada à mineradora brasileira pelo banco Credit Suisse, em 17 de maio. Como o volume da operação era muito grande, outras instituições financeiras foram chamadas a participar da oferta. Para os bancos, o fato de a Vale ter feito uma proposta 100% em dinheiro representa uma vantagem sobre os seus concorrentes.
Já na sexta-feira, a Vale começou a esclarecer as agências de classificação de risco sobre os impactos da oferta em seu balanço, depois que algumas delas divulgaram que haviam colocado o rating da companhia em observação, com a perspectiva de reduzir a classificação caso a aquisição seja bem-sucedida. Se perder o rating de "investment grade"? (investimento seguro), o custo de captação da Vale pode subir. Para José Olympio Pereira, responsável pela área de banco de investimento do Credit Suisse, isso não deve acontecer. "Primeiro, porque as agências não baixam o rating imediatamente e a Vale terá tempo para mostrar que a aquisição não tem um impacto tão significativo em seu endividamento e segundo porque a perspectiva é de que, em três anos, combinados os fluxos de caixa de Vale e Inco, seja possível pagar a aquisição", afirmou. Outro fator externo que pode ter um peso favorável à Vale é a possível elevação do rating do Brasil a "investment grade". No mercado acredita-se que isso possa ocorrer já no ano que vem ou no início de 2008.
A Vale tem hoje um endividamento baixo, o que contribuiu para que a companhia obtivesse o investment grade. A relação entre a dívida e a geração de caixa operacional (Ebitda, na sigla em inglês, ou lajida, em português) é inferior a 0,5. Com a aquisição, a dívida total sobre o Ebitda deverá subir para 1,9 e a geração de caixa operacional será de 11 vezes o valor da despesa com juro.
"São índices confortáveis de alavancagem", afirma um analista. Embora na sexta-feira as ações da Vale tenham caído com o anúncio da oferta, a estimativa do analista é de que a aquisição poderá elevar o lucro por ação da Vale em cerca de 7%, já considerando o custo do juro (de Libor mais 0,4 ponto percentual no primeiro ano e de Libor mais 0,6 ponto percentual no segundo ano). "Como a oferta é em dinheiro, e não em emissão de ações, não haverá diluição da participação de minoritários. Além disso, a Vale já anunciou que não lançará ações lá na frente para substituir o empréstimo-ponte. A idéia é usar outros instrumentos de financiamento mais longo", disse o analista.