Título: Melhor que a encomenda
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2010, Economia, p. 17

Puxado pela recuperação da indústria e pelas fortes vendas do comércio, o PIB cresceu e manteve, no terceiro trimestre, um aumento capaz de superar o salto de 7,5% previsto para 2010

Impulsionado pela indústria e pelo comércio, o país consolidou no terceiro trimestre crescimento suficiente para chegar ao fim do ano com uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 7,5%. Embora mais moderado do que nos dois primeiros períodos de 2010, o ritmo da economia entre os meses de julho e setembro aponta para a manutenção dos consumos do governo e das famílias. Avanços consistentes do mercado de trabalho e do crédito ajudam a configurar o cenário promissor.

De janeiro a março, a expansão do PIB calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) bateu em 2,7% na comparação com os últimos três meses de 2009. Entre abril e junho, o país perdeu fôlego, registrando uma taxa de 1,2%. As apostas dos economistas indicam um aumento de 0,5% a 1% no terceiro trimestre, que, se confirmado, terá reflexos sobre o último trimestre e confirmará 2010 como o melhor ano do PIB do Brasil desde 1986. O dado oficial só será conhecido no início de novembro.

Flávio Castelo Branco, gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), explica que, apesar do grave problema causado pela valorização do real, a confiança do empresário está bastante elevada. A tendência continua positiva. Olhando para a sondagem industrial, a gente percebe que a demanda doméstica continua muito positiva. As expectativas de exportações também, assim como as compras de matérias-primas. A sinalização dos setores industriais são boas em relação ao restante do ano e para o início de 2011, disse. Em julho, a produção nas fábricas subiu 0,6%, caindo para -0,1% em agosto. A CNI está em processo de revisão do PIB anual.

Motor latino Reavaliação divulgada ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) reforça que a economia brasileira assumiu de vez o papel de motor da América Latina. Em seu relatório semestral Perspectivas Econômicas Mundiais, o organismo alterou de 7,1% para 7,5% a perspectiva de crescimento do país (leia mais na página 25). A previsão do Banco Central está em 7,3%, enquanto a do Ministério da Fazenda é de, pelo menos, 7%. No último Boletim Focus apanhado semanal feito pelo BC em instituições financeiras a estimativa aumentou para 7,55%, contra 7,53% na semana passada.

Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, acredita em alta de 1% do PIB no terceiro trimestre sem pressão inflacionária. O crescimento é relativamente alto para o padrão do PIB potencial. Vai ter uma expansão menor do que a do primeiro trimestre, talvez uma moderação em relação ao segundo, mas 1% ainda é um número elevado, é um crescimento razoável, completou. Apesar de a indústria sofrer com a cotação do dólar em queda-livre (leia mais na página 18), Velho está otimista e considera ser possível chegar ao fim de 2010 com um PIB 7,85% superior ao registrado em 2009.

No comércio, as expectativas também são positivas. O efeito cambial tem reflexos no aumento das vendas, o que pôde ser percebido discretamente ao longo do terceiro trimestre e de maneira mais acentuada agora, no quarto e último trimestre do ano. Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), lembra que o setor crescerá 10% em 2010, ainda que entre julho e setembro o comportamento tenha sido de desaceleração. Não há tendência de queda no caso do comércio. O terceiro trimestre deve ter variado entre 0,5% e 1% no geral, reforçou.

Retração goiana A produção industrial brasileira arrefeceu entre julho e agosto. Segundo dados do IBGE, divulgados ontem, de 14 locais pesquisados, nove registraram queda no período. Na média nacional, o país recuou 0,1% e Goiás foi destaque ao registrar recuo acima desse patamar, um tombo de 4,8%. Também houve esfriamento no Rio Grande do Sul (-4,3%), em Pernambuco (-4,0%), no Amazonas (-3,0%), na Região Nordeste (-1,9%), na Bahia (-1,7%) e no Espírito Santo (-1,1%). Por outro lado, houve expansão na produção da indústria no Pará (2,4%), no Rio de Janeiro (1,6%), em São Paulo (1,3%), no Ceará (0,8%) e em Santa Catarina (0,1%). Entre os destaques positivos, há uma forte presença da indústria automobilística, de setores produtores de eletroeletrônicos e de máquinas e equipamentos.