Título: Governo e oposição coletam assinaturas para CPI ampliada
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2012, Política, p. A6
Depois de fechar um acordo sobre o texto do requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar o escândalo protagonizado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, partidos da base aliada e da oposição deram início ontem à coleta das 171 assinaturas de deputados e 27 de senadores necessárias à instalação da CPI mista. Pelo menos em teoria, a comissão será majoritariamente governista. Terá seis meses para aprofundar as denúncias relacionadas às operações Monte Carlo e Vegas, da Polícia Federal, e apurar as ligações do suposto esquema ilegal com agentes públicos e o setor privado.
Apelidado de Carlinhos Cachoeira, Ramos foi preso sob a acusação de liderar um esquema ilegal de jogos de azar. A CPMI, que deverá ser instalada até quinta-feira, também terá como objetivo investigar casos de corrupção, violação e divulgação de telefonemas e e-mails, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações. A ampliação do escopo das investigações resultou de uma negociação entre a base aliada e os partidos de oposição, que, apesar de terem à disposição apenas seis das 30 cadeiras da comissão, tentarão atingir o governo federal.
"A gente tem que investigar todos os fatos ilícitos que envolvam o Carlos Cachoeira, tudo que for irregular nas unidades da federação e nas três esferas de Poder", disse o líder do DEM na Câmara, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA).
A oposição acredita ainda que poderá revelar irregularidades em contratos da construtora Delta em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "A Delta Construção não tem relação alguma com o empresário Carlos Augusto Ramos. O ex-diretor da empresa em Goiás, Claudio Abreu, foi demitido em 8 de março em razão de suas relações com o empresário investigado. A Delta instaurou auditoria em seu escritório de Goiás para levantar a intensidade e a extensão das relações entre seu ex-diretor e Carlos Augusto Ramos", declarou a empresa por meio de uma nota enviada ao Valor.
Além de fustigar o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), PSDB e DEM também pretendem ressuscitar o caso protagonizado por Waldomiro Diniz. O ex-assessor da Casa Civil, pivô da CPI dos Bingos, foi filmado cobrando propina de Cachoeira. Já os petistas pretendem atingir o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que até as denúncias era um dos mais ativos oposicionistas da bancada do DEM, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e setores da imprensa.
Os partidos também começaram a discutir quem integrará a comissão, que será composta por 15 senadores e 15 deputados titulares. Por ora, alguns dos nomes citados têm três perfis: os parlamentares com experiência em CPIs, os que possuem interesses políticos locais em relação às denúncias e líderes partidários. O PMDB da Câmara, por exemplo, será representado pelos deputados Íris de Araújo (GO) e Luiz Pitiman (DF), ambos de Estados que foram alvos das investigações. Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) já participaram de outras CPIs, assim como o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). O PT da Câmara só deve anunciar seus representantes na terça-feira, mas alguns nomes mencionados são Carlos Zarattini (SP), Paulo Teixeira (SP) e André Vargas (PR).
No Senado, a bancada do PT deve indicar os senadores Wellington Dias (PI) e José Pimentel (CE), líder do governo no Congresso. Ciro Nogueira (PP-PI), Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Renan Calheiros, líder do PMDB na Casa, também poderão compor a CPMI. Um senador do PMDB deve presidi-la e um deputado do PT, relatá-la.
Por outro lado, o PSDB poderá abater as pretensões do deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), autor de um dos requerimentos de criação de CPI e acusado de manter ligações com um integrante do esquema. Na terça-feira, o PSDB proporá uma representação por quebra de decoro contra Queiroz ao Conselho de Ética da Câmara. O deputado nega estar envolvido com irregularidades. (Colaborou Raquel Ulhôa)