Título: Planalto monitora composição da CPI
Autor: Costa ,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2012, Política, p. A7
Embora tenha lavado as mãos quando o PT desencadeou uma ofensiva partidária para a criação da CPI, a presidente Dilma Rousseff acompanha de perto a escalação dos nomes dos deputados e senadores que vão investigar as relações entre parlamentares e integrantes do governo com o empresário Carlos Cachoeira.
O PT já fez um acordo preliminar com o PMDB, que indicará um senador para a presidência da CPI. O PT ficará com a função de relator, que é a mais importante da CPI. O relator tem o poder de convocar os depoentes, além, é claro, de elaborar o relatório, culpando ou inocentando, a ser votado no final pela comissão de inquérito.
O líder do PT na bancada de deputados, Jilmar Tatto, já fez algumas sondagens, mas também tem encontrado dificuldades para escolher um nome disposto a ser o relator da comissão, assim como o Conselho de Ética de Senado teve para definir o nome do senador para relatar o processo contra o senador Demóstenes Torres - antes de Humberto Costa (PT-SP) ser indicado, cinco outros recusaram a função.
Pelo menos seis nomes já foram discutidos. Os deputados Paulo Teixeira (SP), ex-líder da bancada na Câmara, e André Vargas (PR), saíram na frente. Logo em seguida estão os deputados Carlos Zarattini (SP) e Sibá Machado (AC). Mais atrás, estão os deputados Márcio Macedo (SE) e Odair Cunha (MG).
Márcio Macedo não demonstrou disposição para aceitar a função. É deputado de primeiro mandato, sem muita experiência, e já percebeu que a CPI pode se transformar num cenário de batalha campal. Odair teve posição discreta no mensalão, mas sempre em defesa do PT. Os demais nomes cogitados até agora não demonstram disposição para aceitar a função, algo comum no Congresso quando se trata de investigar e julgar colegas.
A questão do mensalão é um problema central na questão da CPI. Dependendo da indicação de seus nomes, o PT vai sinalizar se pretende apenas nivelar os partidos, no que se refere ao financiamento de campanhas (todos fazem caixa dois), ou se quer a revanche do mensalão, o suposto esquema de compra de votos investigado por CPIs, em 2005.
Setores do PT defendem que não deve ser indicado um nome de São Paulo, a seção mais atingida pelo escândalo do mensalão. O principal líder do grupo majoritário do partido, o ex-ministro José Dirceu, perdeu o cargo no Palácio do Planalto e depois o mandato, acusado de "chefiar a quadrilha" do mensalão, segundo expressão empregada pela Procuradoria Geral da República na denúncia que ofereceu ao Supremo.
Mesmo fora de São Paulo há deputados dispostos a fazer a revanche de 2005. O deputado Fernando Ferro (PT-PE), por exemplo, disse que se for escolhido relator da CPI não hesitará em convocar a direção da "Veja". O semanário publicou algumas das principais denúncias da existência de corrupção no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo disposto a fazer o acerto de contas tem vínculos com ex-ministros do governo, além de José Dirceu, sobretudo entre os que defendiam a criação de um marco regulatório da imprensa, projeto que Dilma engavetou quando assumiu.
A presidente Dilma está preocupada com o movimento que ocorre dentro do PT no sentido de tentar que as denúncias, inclusive a da existência de um suposto esquema de compra de votos no Congresso, tiveram como base atividades ilegais do grupo de Cachoeira. A tentativa, no partido, é mostrar que alguns meios de comunicações usaram o mesmo expediente que os tabloides ingleses que faziam interceptação telefônica e agora estão respondendo judicialmente por escutas ilegais.
Há preocupação no governo, também, com as indicações a serem feitas por outros partidos. Um exemplo: se o PR indicar Anthony Garotinho, o que não é previsto, ele restringirá sua atuação à a ação de Cachoeira no parlamento ou vai tentar aprofundar a investigação sobre as relações da construtora Delta com o governador Sérgio Cabral (RJ). A Delta deve ser uma das estrelas da CPI: ela já atua em três Estados (Rio, Distrito Federal e Ceará) e agora está entrando no Piauí.
O roteiro escrito pelo PT para a CPI é claro: tentar desqualificar denúncias feitas pela "Veja", mostrar que o financiamento de campanhas por meio de caixa dois é uma prática de todos os partidos e não apenas dele e "quebrar as asas da oposição", com a cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e revelar as supostas relações perigosas do governador de Goiás, Marconi Perillo, com Carlos Cachoeira para usar na campanha eleitoral para prefeito. É possível que os partidos retardem a indicação dos nomes. É uma forma de ganhar tempo enquanto são negociados os rumos da CPI.