Título: Para empresários do Rio, carências ameaçam desenvolvimento
Autor: Santos, Chico e Magalhães,Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2006, Brasil, p. A2

A construção até 2015 da usina nuclear Angra III é um dos pilares no segmento da infra-estrutura do programa de metas para o desenvolvimento do Rio que a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e outras entidades empresariais e profissionais prepararam para os candidatos ao governo do Estado e ao governo federal em busca de um comprometimento com essas metas.

Apesar de o governo do Estado considerar que a economia fluminense vai bem e que até seu crescimento não está sendo corretamente medido pelas estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tanto o programa de metas da Firjan como propostas que também foram elaboradas por outras entidades, como a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), partem de um diagnóstico bem menos otimista. Firjan e ACRJ são comandadas por dois entre os mais importantes empresários cariocas, a primeira por Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, do grupo Ipiranga, e a segunda por Olavo Monteiro de Carvalho, do grupo Monteiro Aranha.

Para essas entidades, o Estado do Rio de Janeiro tem potencial de crescimento, mas está seriamente ameaçado por gargalos econômicos e sociais, como a carência de infra-estrutura viária, a falta de programas continuados para resolver a tragédia habitacional das favelas, a carência de serviços de saúde e a ineficácia da educação pública, especialmente do ensino fundamental, e falta de segurança pública.

Um trabalho realizado pelo economista André Urani, diretor do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (Iets) para a ACRJ relata que o Rio está na mão inversa do Brasil em vários aspectos, como a pobreza e desigualdade que, segundo ele, caem no país, mas não no Estado. Urani disse que o clima para o desenvolvimento empresarial no Estado "é de uma hostilidade inacreditável", especialmente para a micro e pequena empresas. O estudo, que será entregue hoje a Monteiro de Carvalho, elege a micro e pequena empresa como foco das ações a serem implementadas.

O trabalho da Firjan, iniciado em outubro do ano passado, reuniu análises e propostas levantadas por mais de mil empresários e técnicos. Foram reunidas 136 proposições, sendo 30 de caráter legislativo já transformadas em minutas. De acordo com o presidente da Firjan, o propósito da entidade é de que, com as propostas encampadas pelos futuros governantes, seja montada uma estrutura de acompanhamento para evitar que, como tantas outras, caiam na vala comum do esquecimento.

Para mostrar que está disposta a levar a cabo esse propósito, a entidade convidou todos os candidatos a governador e decidiu tornar a proposta pública até com uma demonstração de força. Mais de mil empresários e representantes de outros segmentos sociais prometem deslocar-se amanhã à tarde pelas ruas em torno da movimentada Cinelândia e formar uma massa compacta nas escadarias em frente ao Teatro Municipal antes de entrar para fazer a divulgação pública do documento com as metas. "Nosso objetivo é constranger o poder público a assumir os compromissos e levá-los adiante", explicou Eduardo Eugênio. Ele é chamado entre seus pares pelo nome próprio, ao invés do sobrenome, o que confundiria com os os quatro irmãos também atuantes no mundo dos negócios.

Os compromissos relatados pela Firjan começam pela erradicação do analfabetismo, que ainda atinge cerca de 500 mil pessoas no Estado, e chegam na execução de obras de infra-estrutura há muito projetadas. Entre elas estão, além da construção de Angra III, a construção de um arco rodoviário em torno da capital, ligando as principais rodovias (BR-116, BR-040 e BR-101) ao porto de Sepetiba, a construção da linha 3 do Metrô da capital e a duplicação da pista de descida da Serra das Araras, na rodovia Presidente Dutra.

São projetos de competência estadual e federal e algumas obras dependentes de concessões ou de parcerias público-privadas (PPPs). Hoje, o governo do Estado se antecipa e, em conjunto com a ACRJ, apresenta um plano de dinamização do Porto do Rio, com investimentos de R$ 286 milhões, com inversões públicas e privadas.