Título: Emprego cai e produção aumenta no semestre
Autor: Landim, Raquel e Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2006, Brasil, p. A4
A produção e o emprego andaram em descompasso na indústria de transformação no primeiro semestre. Na comparação com o mesmo período de 2005, o emprego caiu em 11 de 17 setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a produção aumentou em 12 desses 17 segmentos. Na média da indústria de transformação, houve queda de 0,5% no pessoal ocupado e aumento de 2,3% na produção de janeiro a junho. Em alguns setores, os dois indicadores caminharam em sentido oposto, como o químico, que mostrou elevação de 2,3% no emprego e recuo de 0,8% na produção.
A indústria de calçados e couro e a de madeira e móveis tiveram o pior resultado em termos de emprego, com tombos expressivos na produção. O câmbio valorizado é o principal responsável pelo mau desempenho. Na outra ponta, quem vai bem são os segmentos de alimentos, beneficiados pelo aumento da renda; o de máquinas e aparelhos elétricos e eletrônicos, favorecidos pelas vendas de televisores e celulares; e o de refino de petróleo e álcool, impulsionado pelos altos preços internacionais.
O setor de calçados e couro registrou a maior queda no emprego no primeiro semestre do ano: 13,4% em relação a igual período de 2005. A produção física do setor caiu 3,9%. Segundo Heitor Klein, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), o setor sofre com a valorização do real, que reduz a competitividade das exportações e aumenta a concorrência de sapatos da China no mercado interno.
O executivo atribui o descompasso entre o ritmo de produção e do emprego à diferenciação entre os produtos. Os segmentos mais afetados pelos problemas com o câmbio são exatamente os que mais empregam. É nesse uso intensivo de mão-de-obra que está a competitividade de concorrentes como a China. As exportações brasileiras estão focadas em sapatos masculinos e femininos de couro, que demandam muita mão-de-obra. O aumento das importações também está concentrado em calçados masculinos e esportivos. No caso dos sapatos injetados (sandálias plásticas), que geram menos emprego, o Brasil exporta pouco e enfrenta baixa concorrência de importados. "As empresas estão reduzindo a produção e dispensando pessoal em uma escala já bastante expressiva", diz Klein.
A indústria de tecelagem e fiação aumentou em 2% a produção física no primeiro semestre do ano ante janeiro a junho de 2005, mas reduziu em 2,4% o pessoal ocupado. Já nas confecções, ocorreu uma queda expressiva da produção física, 7,9%, que veio acompanhada de de uma baixa de 4,6% do emprego.
Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), explica que o segmento de vestuário é que o mais sofre com a concorrência dos produtos asiáticos dentro e fora do Brasil. "Essas empresas são atacadas pela importação ilegal e perdem mercados lá fora", diz.
Ele explica que o ritmo de demissões não é tão forte quanto a queda da produção, porque os empresários demoram a demitir, apostando na melhora sazonal das vendas no segundo semestre. Já o setor de fiação e tecelagem é cada vez mais intensivo em capital. Embora também seja afetado pelo câmbio, o setor investiu em aumento de produtividade, o que justifica a queda do pessoal ocupado, enquanto a produção sobe.
No setor de alimentos e bebidas, houve um aumento do emprego de 8,8% no primeiro semestre, período em que a produção cresceu 2,3%. Para o diretor do departamento econômico da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Denis Ribeiro, o crescimento da renda puxa o desempenho do segmento, que deve melhorar no segundo semestre, sazonalmente mais positivo.
Os dados da Abia, porém, apontam um crescimento menor do emprego de janeiro a junho, de 0,54%, bem abaixo dos 8,8% do IBGE. Para Ribeiro, uma das hipóteses para a discrepância é que a pesquisa do IBGE abrange um número maior de companhias, enquanto a da Abia se concentra nas médias e grandes. Ele avalia que a redução da informalidade e o aumento das contratações na indústria de bebidas podem ajudar a explicar o resultado do IBGE.
O setor de coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool, cuja produção cresceu 5,6% no semestre, mostrou o maior aumento no emprego no período, de 11,4%. Os preços elevados do petróleo impulsionam o setor.
O setor de madeira e móveis teve o pior desempenho da produção física no semestre com uma queda de 8,8% em relação a janeiro a junho de 2005. O emprego caiu ainda mais: 11,8%. Domingos Rigoni, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Mobiliário (Abimóvel), explica que o consumidor está optando por produtos mais baratos, que demandam menos mão-de-obra. As exportações, que exigem um nível maior de qualidade, também não vão bem.
Na indústria geral, houve queda de 0,5% no emprego e aumento de 2,6% da produção, beneficiada pelo desempenho de indústrias extrativas, que produziu 8,4% a mais no semestre. Em junho, o emprego industrial caiu 0,1% em relação a maio, com ajuste sazonal.