Título: Câmbio: FMI alerta o Brasil
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Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2010, Economia, p. 23
Fundo afirma que lutar contra os fluxos de capital com acúmulo de reservas é autodestrutivo. Solução estaria em apoio entre países
Washington e Pequim O economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, alertou o Brasil que tentar lutar contra os fluxos de capital externo com acúmulo de reservas é uma medida provavelmente autodestrutiva.
Os países emergentes devem abster-se de adotar medidas extraordinárias para frear a valorização de suas moedas, um fenômeno que faz parte inevitável do apoio mútuo em nível mundial para sair da crise, considerou Blanchard.
No caso do Brasil, levando em conta as circunstâncias atuais, esses fluxos (de entrada de capital) correm o risco de serem permanentes, portanto combatê-los mediante um acúmulo de reservas é provavelmente autodestrutivo, afirmou.
O governo brasileiro decidiu duplicar o imposto sobre o capital estrangeiro destinado ao mercado de renda fixa para lutar contra a revalorização de sua moeda, o real. O Fundo defende uma valorização das moedas dos países que estão crescendo mais, recordou Blanchard, apesar de se referir especialmente à China.
É imperativo evitar divergências, ou como se tem denominado, uma guerra de divisas, afirmou. O reequilíbrio internacional exige uma valorização das moedas de inúmeras economias emergentes em relação às de inúmeros países desenvolvidos. Na primeira categoria, temos claramente o iuan e um certo número de moedas asiáticas e, na segunda categoria, claramente o dólar.
Para o economista-chefe do FMI, os ajustes cambiais ficam mais difíceis se um país fixa sua moeda e dá início a guerras cambiais. Se um país decide atrelar sua moeda a outra, ou então evita que ela se ajuste, fica muito mais difícil para outros países ajustarem as suas taxas de câmbio. É aí que a cooperação é essencial, para que todas possam se valorizar da maneira apropriada e não tenhamos lutas ou guerras cambiais, disse Blanchard.
China Em um seminário empresarial antes da cúpula com autoridades da União Europeia, o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, disse que a União Europeia deveria parar de pressionar a China pela valorização do iuan, já que a moeda vai se apreciar gradualmente.
Na terça-feira, autoridades da Zona do Euro pediram a Jiabao uma valorização ordenada, significativa e fundamentada do iuan para ajudar a equilibrar a economia mundial.
Jiabao, em reunião na terça-feira com o representante dos ministros de Finanças da Zona do Euro, Jean-Claude Juncker, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e o comissário de assuntos econômicos da UE, Olli Rehn, pediu que a União Europeia trate a questão do iuan de forma objetiva e justa, segundo a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. Ele reafirmou que a China continuará com as reformas para tornar o iuan mais flexível.
Com o dólar fraco, o FMI acredita que o consumo em economias avançadas deve continuar ameno por algum tempo, mas não vê qualquer possibilidade de uma nova recessão global. Blanchard acredita que os bancos centrais deveriam manter a política monetária expansionista nos países onde a demanda privada for fraca. Segundo ele, não há evidência de que sustentar as taxas de juros baixas gere bolhas de ativos.
Emergentes amparam a recuperação global As economias emergentes devem crescer em ritmo quase três vezes mais rápido que as nações ricas neste ano, apontou o Fundo Monetário Internacional (FMI). A China será um motor de crescimento para muitos países, especialmente nos exportadores de commodities, mas o mundo desenvolvido enfrenta perspectivas reduzidas, segundo o relatório Perspectiva Econômica Mundial. Para o FMI, a recuperação global continua frágil porque as políticas econômicas ainda não estavam implementadas para permitir uma transição suave do apoio estatal à demanda privada. Nas previsões econômicas atualizadas, o Brasil deve ter crescimento de 7,5% em 2010 e é apontado pelo Fundo como parte do grupo de países da região com políticas macroeconômicas impressionantes nas últimas duas décadas, mas também com altas quase ininterruptas dos preços das matérias-primas.
Forças de mercado
O secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, afirmou ontem que os países com elevados superavits comerciais precisam deixar que suas moedas se valorizem ou correm o risco de provocar uma rodada destrutiva de desvalorização em busca de competitividade.
Isso é um problema porque, quando grandes economias com taxas de câmbio sobrevalorizadas agem para evitar que sua moeda se aprecie, isso encoraja outros países a fazer o mesmo, destacou em discurso.
Geithner não mencionou nenhum país especificamente, mas a expectativa é de atenção ao encontro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial no fim desta semana em meio aos esforços para convencer a China a deixar o iuan se valorizar mais rapidamente.
Mais desemprego O setor privado dos Estados Unidos cortou 39 mil empregos em setembro, um dado inesperado, depois de abrir 10 mil vagas em agosto, mostrou ontem um relatório.
Inicialmente, havia sido divulgado um corte de 10 mil vagas em agosto.
A mediana das previsões de 38 economistas ouvidos pela Reuters para o relatório da ADP Employer Services estimava a criação de 24 mil vagas em setembro.
Expansão revisada
Washington O crescimento econômico dos Estados Unidos será bem mais fraco neste ano e em 2011, e isso reduz as esperanças de alívio dos altos níveis de desemprego do país, avaliou o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em análise sobre o cenário econômico norte-americano, o FMI cortou para 2,6% a estimativa de crescimento em 2010, ante projeção de 3,3% anunciada em julho, e disse que o Produto Interno Bruto (PIB) subirá 2,3% em 2011, em vez dos 2,9% previstos antes.
A perspectiva mais provável para a economia norte-americana é de uma recuperação continuada, mas lenta, com crescimento bem mais fraco do que nas recuperações anteriores, considerando a profundidade da recessão, afirmou o FMI no relatório Perspectiva Econômica Mundial.
Conservador Segundo o FMI, a principal razão pela qual a retomada dos EUA está tão fraca é que os gastos do consumidor continuam lentos. A queda dos preços de imóveis reduziu a riqueza das famílias, 9,6% da força de trabalho está desempregada e os bancos não emprestam.
A taxa de desemprego deve ficar alta, alertou o Fundo. Os riscos à perspectiva continuam elevados.
O Fundo avaliou também que o mercado imobiliário ainda está frágil e o crescente endividamento do governo tem gerado preocupação nos mercados financeiros.
Para o organismo, há um pequeno risco de deflação advindo dos baixos preços ao consumidor, do mercado de trabalho fraco e do desejo das pessoas de poupar em vez de comprar. Mesmo assim, pediu que o Federal Reserve mantenha a política de juro baixo para tentar incentivar o crescimento.