Título: Sob pressão do PMDB, Suassuna afasta-se da liderança no Senado
Autor: Ulhôa, Raquel e Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2006, Política, p. A5

O senador Ney Suassuna (PB) deixou ontem, temporariamente, a liderança do PMDB no Senado. Acusado de envolvimento com a máfia que superfaturava a compra de ambulâncias, o pemedebista resistia a deixar o posto. Pressionado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), Suassuna anunciou a saída em telefonema ao colega gaúcho no início da noite. Ficará afastado por dois meses. Em seu lugar ficará o vice-líder Wellington Salgado (MG), único a votar contra o relatório parcial da CPI das Sanguessugas com o nome de Suassuna e mais 71 parlamentares acusados de ligação com a quadrilha.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem que encaminhará diretamente e "com a maior agilidade" ao Conselho de Ética do Senado o pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra três senadores citados no relatório da CPI. Renan receberá hoje o relatório final. "Pretendo mandar o relatório para o conselho com a maior agilidade. Até amanhã (hoje) mesmo, se for possível. Os próprios citados querem que o caso tenha um rápido desfecho, seja qual for", disse Renan, por telefone.

Aliado de Suassuna, que integra a ala governista do PMDB, o presidente do Senado tem evitado comentar a situação do ex-líder. O único pemedebista que defendia abertamente o afastamento do paraibano do cargo de líder do partido era Simon. Até ontem, Suassuna se recusava a deixar o posto, sob argumentação de que seria uma confissão.

O gaúcho dizia que, se Suassuna não renunciasse ao cargo de líder até ontem, pediria da tribuna que deixasse a função. "Afastar-se da liderança não seria reconhecimento de culpa. Seria apenas ter a sensibilidade de entender que uma pessoa citada na CPI terá que se defender no Conselho de Ética e o líder partidário terá de acompanhar todas as investigações. As duas posições não são compatíveis", disse Simon.

Na avaliação do senador gaúcho, se Suassuna não deixasse o cargo de líder, dificilmente seria afastado pela bancada, porque está desmobilizada, com a maioria dos senadores envolvida em campanhas eleitorais nos estados.

No fim da tarde de ontem, Suassuna ligou para Simon. "Quero ver o que você vai dizer quando eu for inocentado. Vou provar que não tem nada contra mim", disse o paraibano ao colega gaúcho. Simon respondeu: "Vou gostar muito se isso acontecer. Sou franciscano, não tenho prazer em fazer essas coisas". Suassuna mostrava mágoa no telefonema a Simon.

Suassuna dedicou os últimos dias à rearticulação de sua campanha na Paraíba e à tentativa de assegurar sua candidatura, abalada pelas denúncias. Ele liderava a disputa, segundo pesquisas de intenção de voto, mas, com o envolvimento do seu nome no escândalo das ambulâncias, a posição foi ameaçada pelo candidato tucano, Cícero Lucena.

Suassuna tem justificado os ofícios com pedido de liberação de emendas ao Ministério da Saúde alegando que sua assinatura foi falsificada pelo assessor Marcelo Carvalho, este sim, segundo o senador, envolvido com a máfia da Sanguessugas. O senador afirma que não conhece nenhum integrante da quadrilha e nega qualquer envolvimento. A CPI o acusa de receber R$ 220 mil de propina, dinheiro supostamente depositado na conta do seu assessor.

Na Câmara, PPS, PV e PSOL devem protocolar amanhã no Conselho de Ética representação contra os 69 deputados por quebra de decoro parlamentar. Os partidos pedirão a cassação de todos com base no relatório parcial aprovado pela CPI.

Com a aprovação do relatório parcial na CPI, a Mesa Diretora da Câmara recebeu o nome dos 69 deputados e os remeteu à Corregedoria, para posterior pronunciamento sobre os casos e conseqüente envio ao Conselho de Ética. O receio dos três partidos é exatamente a demora na remessa dos processos para o Conselho pela Corregedoria.

"A Corregedoria pode atrasar um pouco. E como a nossa representação direta ao Conselho de Ética não atropela qualquer direito de defesa, achamos mais prudente entrar com as representações", explica o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE). "Tememos a procrastinação."

No entendimento de Freire, se a Corregedoria não enviar os processos ao Conselho de Ética até o fim da legislatura, os casos são arquivados. Uma vez no conselho, os processos podem seguir normalmente dentro da próxima leva de eleitos.

Hoje a CPI das Sanguessugas tem reunião marcada para a votação de 107 requerimentos. Sem quorum, dificilmente a comissão conseguirá votar qualquer pedido, mas os trabalhos da subrelatoria do Executivo, criada para investigar a participação de integrantes do governo no caso, deverá começar a trabalhar. O subrelator Júlio Redecker (PSDB-RS) é contra a convocação imediata dos ex-ministros da Saúde para depor na CPI. Prefere ampliar as negociações primeiro antes de ouvi-los.

A comissão de ética do PSB deverá se reunir hoje para definir o futuro de Paulo Baltazar (RJ), João Mendes de Jesus (RJ), Isaías Silvestre (MG) e Marcondes Gadelha (PB). Os quatro deverão ter suas legendas retiradas em duas semanas e deverão se expulsos do partido por constarem da lista de 69 deputados da CPI. O PMDB e o PFL só se reunião na semana de 4 de setembro, quando haverá esforço concentrado no Congresso. Só assim conseguiriam ter quorum nas respectivas Executivas para deliberar sobre os acusados.

Os processos dos pefelistas já começaram a tramitar no Conselho de Ética do partido. A legenda tem pressa. Os denunciados têm pressão nos estados para aparecer no horário gratuito eleitoral. Bornhausen acredita que os diretórios estaduais saberão definir a questão da participação dos denunciados no horário eleitoral gratuito, levando em conta a imagem do PFL. "Nós, do comando nacional, não temos controle sobre o horário, uma vez que os programas são feitos nos estados. Mas confiamos na decisão dos nossos presidentes estaduais, eles saberão encontrar a melhor solução e agirão em sintonia com o desejo dos nossos eleitores", afirmou o presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), preocupado com o efeito da aparição dos denunciados nos programas do partido.