Título: Propostas de reforma devem anteceder posse, diz Aécio
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 15/08/2006, Política, p. A6

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), disse ontem, ao sair de um encontro com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ficará fora da radicalização da campanha eleitoral que se prenuncia a partir do início da propaganda gratuita no rádio e na TV. "Não contem comigo. Venho de um Estado onde se aprende muito cedo que, numa disputa eleitoral, deve-se deixar mais espaço para a disputa das idéias do que para a disputa entre pessoas".

Aécio admitiu ser natural, numa eleição que tende a se polarizar, que haja um "certo nível de contundência", mas defendeu que sempre sejam respeitadas as pessoas. Para ele, também é normal que seu partido, no momento de falar do futuro, vá lembrar do presente, do que vem ocorrendo no Brasil.

O governador, também candidato à reeleição, defendeu que a reforma política seja a primeira a ser votada pelo novo Congresso. Aécio defende, além da fidelidade partidária, a cláusula de desempenho dos partidos, o voto distrital misto com lista partidária e financiamento público de campanha: "Essas quatro matrizes de transformação vão mudar o quadro partidário brasileiro e facilitar negociações que poderão deixar de ser com grupos de influência e passar a ser efetivamente com partidos".

Paralelas à reforma política, Aécio disse que também têm de ser aprovadas as mudanças estruturais das normas tributárias e previdenciárias. "Temos de fazer a reforma tributária acabando com as 27 legislações de ICMS e essa guerra fiscal absurda prevalecendo no Brasil. Ela já está madura e pronta para ser aprovada junto com o fundo de desenvolvimento para as regiões mais pobres", justificou.

Uma nova reforma da Previdência também foi defendida pelo governador. "Essas três reformas seriam aquelas que deveriam ser apresentadas até antes da posse do Congresso. O presidente eleito tem condições até para amadurecer um pouco as discussões de apresentar ainda este ano", comentou.

Na análise de Aécio, independentemente de partidos - e ele espera que seja eleito Geraldo Alckmin - todos têm obrigação de trabalhar para a votação dessas reformas. "Perdemos algumas oportunidades grandes para votá-las, mas não podemos perder outra", advertiu.

Mas o governador admitiu estar preocupado com a imagem do Congresso. "É óbvio que me preocupa se o Congresso tiver na sua pauta que concorrer com essas reformas estruturadoras uma série de processos de cassação. Nunca uma legislatura foi tão atacada e tão contaminada como essa", lamentou.

Com o atual ambiente de denúncias de corrupção envolvendo muitos parlamentares, Aécio acredita que a renovação do Congresso será pouco maior que a habitual. "Temos sempre uma renovação que não ultrapassa os 50%, pela própria estrutura partidária do país. Poderá ser maior, mas não me iludo muito porque não vejo uma grande oferta de novos nomes, até pelo desestímulo que a atividade parlamentar tem gerado. Não há democracia sem Congresso sólido e respeitado. Torço, mais como brasileiro, para que tenhamos um Congresso com cara nova no próximo ano", disse o governador de Minas.