Título: FHC diz que tucanos não temem investigação
Autor: Ulhôa ,Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2012, Política, p. A7

Em declarações públicas e também em conversas reservadas com parlamentares tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem, com ênfase, a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) pelo Congresso para investigar as relações de agentes públicos com o esquema ilegal de exploração de jogos de azar pelo empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira.

"Não temos o que temer", disse FHC a deputados do PSDB que estiveram com ele ontem, em Brasília, onde o ex-presidente esteve para receber uma homenagem da Câmara dos Deputados, cujo serviço de divulgação preparou um documentário sobre sua biografia. "Se formos seguir o fio da meada, esse novelo vai dar no mensalão", disse Fernando Henrique, segundo relato de parlamentares tucanos.

Publicamente, depois de receber a homenagem, FHC foi enfático mas menos partidário. Segundo o ex-presidente, a corrupção no país é grande porque não há punição dos envolvidos. "Há momentos em que o país precisa saber das coisas. O governo deve ter cansado - e os partidos - de tanta corrupção", disse. "É o momento de fazer uma CPI equilibrada, que não seja simplesmente para fazer palco de denúncia. Mas que seja para ir mais fundo. E tentar colocar um final a tanta corrupção".

Mais adiante, de acordo com FHC, as investigações exigirão a ação da Justiça. "A corrupção continua, sim, porque não tem punição. Não sou nenhum ferrabrás, mas acho que não dá. O Congresso tem que assumir suas responsabilidades com serenidade", disse o ex-presidente.

Quando já deixava a Câmara dos Deputados, FHC voltou a ser questionado sobre o assunto e foi ainda mais enfático: "Acho que é bom, porque o país precisa muito passar a limpo as questões com serenidade. Nos cansamos de ver o grau de corrupção existente. [Com] Isso, eu não estou criticando A, B ou C, porque infelizmente atinge a quase todos. Digo, não pessoas, mas partidos. Acho que o país cansou. Então, talvez, seja o momento de o Congresso crescer, fazendo uma CPI que vá à raiz das questões. E que não seja somente para acusar sem base. Acho que o Congresso, em certos momentos, tem que fazer. Este é um dos momentos em que tem que fazer".

O PSDB decidiu assinar a CPMI do Cachoeira, como a comissão está sendo chamada no Congresso. Até deputados de Goiás, Estado governado pelo tucano Marconi Perillo, cujos vínculos apareceram nas investigações da Polícia Federal, assinaram o requerimento, mesmo sem esconder a contrariedade. Como o PT tomou a ofensiva de criar a CPI, a oposição, especialmente os tucanos, não querem parecer na defensiva. A ideia é contra-atacar e transformar a CPI do Cachoeira na CPI da Delta Construções, empreiteira que detém um grande volume de obras do PAC.

Ao discursar, após exibição de trechos do documentário "A Construção de Fernando Henrique", realizado pela TV Câmara, assinado pelo jornalista Roberto Stefaneli, FHC afirmou que "um Congresso digno é um Congresso que não baixa a cabeça". Ao ser perguntado, depois, se quis dizer que o Congresso não deveria recuar na iniciativa da investigação do caso Cachoeira, ele afirmou que sua declaração não tinha nada a ver com o dia a dia.