Título: Meta de inflação relaxada
Autor: Hessel , Rosana
Fonte: Valor Econômico, 13/03/2012, Economia, p. 12

Poucos dias depois de o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, surpreender o mercado ao reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 9,75% ao ano, o mercado voltou a apostar na continuidade dos cortes nas próximas reuniões do colegiado (em abril e maio), prevendo um nível de 9% para o fim de 2012. Mas, mesmo com a redução, cresce entre os analistas a percepção de que o governo abandonou a meta de inflação oficial, de 4,5%, e que agora trabalha com um índice entre 5% e 5,5%. Não por acaso, as projeções de inflação estão cada vez maiores.

Na semana passada, sob o comando de Alexandre Tombini, presidente do BC, o Copom rompeu o ritmo de corte de 0,50 ponto percentual que vinha praticando desde agosto de 2011 e pôs o pé no acelerador. Com isso, de acordo com o mais recente levantamento feito pela instituição no mercado, as expectativas de 2012 para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida da inflação oficial, aumentaram de 5,24% para 5,27%. "Os especialistas leram que o corte de 25 pontos-base a mais pode piorar os prognósticos de inflação", traduziu o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.

Afrouxamento O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, fez uma previsão ainda mais arrojada que a do mercado. Ele espera que a Selic encerre o ano em 8,5% e a inflação, em 5,3%. "Estamos prevendo um afrouxamento de 0,50 a 0,75 ponto percentual para as próximas reuniões do Copom", informou Barros. O economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, também estima uma Selic de até 8,5%.

Mas a economista-chefe da Icap Brasil, Inês Filipa, que fez uma previsão agressiva de corte de um ponto percentual na reunião da semana passada, preferiu não arriscar e alinhou-se com o mercado. "Nas duas próximas reuniões, o Copom fará dois cortes, de 0,50 e 0,25 ponto percentual", previu Inês. Ela calcula que a Selic fechará o ano em 9%.

O mercado tende a ajustar as previsões de acordo com as reuniões do Copom. Uma pesquisa feita pela agência Reuters mostrou que o corte de juros da semana passada, o maior em quase três anos, deve ser seguido de redução semelhante no mês que vem, para 9% ao ano, chegando a 8,5% no fim de 2012.

Cerco à lavagem de dinheiro Atendendo recomendações internacionais, o Banco Central atualizou as normas sobre procedimentos das instituições financeiras para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo. Entre as medidas está a determinação de que os bancos não devem iniciar qualquer relação de negócio com clientes ou prosseguir com os já existentes se não for possível identificá-lo plenamente. O BC exigiu também que os autorizados a operar no mercado de câmbio no Brasil se certificaram de que a sua contraparte no exterior tenha presença física no país onde está constituída e licenciada. Uma terceira medida amplia de 43 para 106 os exemplos de operações e situações que podem configurar indícios de ocorrências de lavagem de dinheiro.