Título: Governo líbio afirma que contratos com empreiteiras brasileiras serão
Autor: Leo,Sergio
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2012, Brasil, p. A3

Às vésperas de uma eleição que, em junho, escolherá novo presidente e parlamentares pelo voto direto, a Líbia quer estreitar os laços com o Brasil e se compromete a manter os contratos bilionários com as empresas brasileiras de construção que operavam no país, garantiu, o vice-primeiro-ministro da Líbia, Omar Abdelkarim.

Ele esteve no Brasil para a conferência sobre transparência governamental patrocinada pelos governos brasileiro e americano. Segundo relato de interlocutores brasileiros Abdelkarim, foi enfático em garantir a continuidade de projetos a cargo de empresas brasileiras.

O vice-ministro líbio, uma das estrelas do governo de transição, com pós-graduação nos EUA e doutorado em engenharia no Japão, informou que o deposto ditador Muamar Gadafi deixou o país com contratos de US$ 98 bilhões, muitos dos quais "elefantes brancos", que serão cancelados.

Esse não é o caso, porém, das obras de infraestrutura urbana em Tripoli e Bengazi, a cargo da Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, e as obras do terceiro anel viário e do aeroporto de Trípoli, a cargo da Odebrecht, que somam mais de US$ 3 bilhões.

A preocupação com as obras foi manifestada a Abdelkarim pelos ministros das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que lhe perguntaram sobre rumores de revisão dos contratos, em represália à abstenção do Brasil, na votação do Conselho de Segurança da ONU, que determinou o bloqueio aéreo da Líbia de Gadafi. Eles foram tranquilizados pelo vice-primeiro-ministro e convidados a visitar a Líbia no segundo semestre.

Patriota explicou ao ministro líbio que o Brasil não se opunha ao bloqueio, mas aos termos excessivamente amplos da resolução da ONU. Abdelkarim disse entender a posição brasileira, mas defendeu os ataques que iniciaram a derrocada de Gadafi, sem os quais, argumentou, teria havido um massacre em Bengazi, reduto dos rebeldes.

Abdelkarim disse que o governo líbio tem interesse na volta da Petrobras ao país, não só para concluir o projeto de exploração assinado em 2005, como para participar com outras empresas dos projetos em reservas na costa do país.

A intenção do governo líbio é ampliar a ação das empresas brasileiras. Está disposto a negociar as compensações pelos prejuízos com perda de ativos durante a revolta contra Gadafi e quer atuação do Brasil no projeto de investimento em turismo, setor sufocado durante os 42 anos de ditadura.

Segundo o executivo de uma das empresas com interesses na Líbia, o setor privado brasileiro ficou entusiasmado com os acenos de Abdelkarim, considerado, além de político, um quadro técnico que deverá ser aproveitado no futuro governo líbio. O principal, para os empresários, é garantir o rápido reinício das atividades diplomáticas do Brasil na Líbia, caso seja aprovado, hoje, na Comissão de Assuntos Externos do Senado, o indicado pelo Itamaraty para a embaixada no país, Afonso Carbonar.

Além de reuniões com Patriota e Pimentel, Abdelkarim teve longas conversas com os ministros das Minas e Energia, Edison Lobão, e das Comunicações, Paulo Bernardo, além de breves encontros com a presidente Dilma Rousseff e também com o vice-presidente, Michel Temer, a quem convidou para falar às autoridades líbias sobre a experiência brasileira com a Assembleia Nacional Constituinte. Temer aceitou.