Título: Sindicato é contra fusão da CSN e Wheeling
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Empresas, p. B8
Um dos sindicatos mais poderosos dos Estados Unidos decidiu se opor ao plano da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para ampliar sua presença no mercado americano, um passo considerado decisivo para assegurar a sobrevivência da brasileira diante da consolidação da indústria em torno de grandes grupos internacionais.
Num comunicado divulgado na segunda-feira, os Metalúrgicos Unidos (USW, na sigla em inglês) anunciaram que vão trabalhar contra a proposta de fusão dos ativos americanos da CSN com os da Wheeling-Pittsburgh, uma siderúrgica que entrou em concordata duas vezes nos últimos anos e ainda encontra dificuldades para se manter à tona.
"Não sei nada sobre os planos da CSN", disse ontem ao Valor David McCall, diretor do USW e principal representante do sindicato nas suas relações com a Wheeling-Pittsburgh. "Eles não falaram comigo sobre o que pretendem fazer para garantir o futuro da companhia nem disseram se vão manter os compromissos com os trabalhadores."
McCall diz ter procurado a direção da CSN há meses para conversar, mas afirma que não teve nenhuma resposta. Oito de cada dez funcionários da Wheeling são filiados ao sindicato, que tem dois representantes no conselho de administração da empresa e controla indiretamente um quinto das suas ações por meio de um fundo criado para garantir aposentadorias e o plano de saúde dos funcionários.
O acordo que regula as relações entre o sindicato e a Wheeling foi assinado em 2003, quando a empresa saiu da concordata, e é válido até 2008. Uma de suas cláusulas diz que qualquer tentativa de transferência do controle da companhia precisa ser submetida primeiro à avaliação do USW, que tem o direito de submeter uma proposta alternativa se quiser.
Quando anunciou a transação com a CSN, há duas semanas, a Wheeling indicou que pretendia esperar até setembro pela manifestação do sindicato. Mas o USW diz que regras fixadas em 2003 lhe dão até fevereiro próximo para se pronunciar. "A Wheeling quebrou nosso contrato ao aceitar a oferta da CSN", disse McCall no comunicado de segunda-feira.
O sindicato apóia uma proposta rival apresentada por uma distribuidora de produtos siderúrgicos chamada Esmark, que foi fundada em 2003 e tem crescido no setor adquirindo empresas em dificuldades financeiras. A Esmark começou a conversar com o sindicato e a Wheeling há mais de um ano, mas a direção da companhia rejeitou todas as suas ofertas até anunciar a intenção de se juntar com a CSN.
O presidente da Esmark, Craig Bouchard, acredita que o apoio do sindicato poderá ajudá-lo a virar o jogo. "Nunca houve uma companhia que tivesse sucesso nessa indústria nos Estados Unidos sem o apoio dos metalúrgicos", disse Bouchard ao Valor. Ele acredita que a decisão do sindicato de se opor à CSN fará a disputa pela Wheeling se arrastar por meses até um desfecho.
A direção da Wheeling esperava resolver a questão numa assembléia de acionistas marcada para 17 de novembro, quando será eleito seu novo conselho de administração. Duas chapas concorrem, uma delas com a turma de Bouchard. A fusão com a CSN só poderá ser analisada depois que for examinada uma reclamação do sindicato contra a forma como a direção da Wheeling conduziu as negociações.
A Wheeling e a CSN se mantiveram em silêncio sobre o assunto ontem. Pela proposta de fusão que apresentaram, a CSN ficaria com 49,5% das ações de uma nova empresa que controlaria os ativos das duas companhias nos Estados Unidos e injetaria US$ 225 milhões no negócio, na forma de um empréstimo que poderia ser convertido em ações no futuro, ampliando a participação da CSN para 65%.
A operação permitiria que a empresa brasileira ampliasse sua participação no mercado americano e lucrasse com a venda de produtos de maior valor agregado, transformando suas placas de aço em chapas e outros produtos para montadoras de automóveis, a indústria de eletrodomésticos e a construção civil. A CSN está desde 2001 nos EUA, onde tem uma unidade com capacidade para processar 900 mil toneladas de aço por ano.