Título: Aliança PT-PMDB deve moldar CPI
Autor: Costa,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2012, Política, p. A10

A aliança entre PT e PMDB da forma como funcionou no governo Lula deve comandar a CPI do Cachoeira, se o Partido dos Trabalhadores (PT) confirmar a indicação do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) para a função de relator da comissão de inquérito. O nome de Vaccarezza era o favorito, até o início da noite de ontem, mas enfrentava também a resistência da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), e do líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). A ministra apoia a candidatura de um deputado do PT mineiro, Odair Cunha, para a função de relator da CPI.

O PMDB é simpático à indicação de Vaccarezza. A aliança entre os dois partidos funcionou sem maiores sobressaltos quando Vaccarezza ocupou as funções de líder da bancada do PT e do governo na Câmara, respectivamente, em períodos distintos. Inclusive o acordo de rodízio na presidência da Câmara, entre as duas siglas, causava menos desconfiança no PMDB. O núcleo formado pelos senadores José Sarney (AP), Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR), que se sentiu afastado do Planalto no governo Dilma Rousseff, também vê com simpatia a indicação.

Entre hoje, quando a CPI será formalizada, e a próxima terça-feira, quando será instalada, os nomes atualmente considerados podem ser outros, mas a tendência é que a comissão de inquérito venha a ser controlada pelo núcleo PT-PMDB nos moldes em que ele funcionou no governo Lula. A presidente Dilma mantém prudente distanciamento das negociações no Congresso - até agora nenhum senador ou deputado registrou algum pedido dela. É diferente a situação de Lula.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse "toca em frente" aos congressistas que conversaram com ele nas últimas semanas. O líder da bancada do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), só defendeu publicamente a criação da CPI depois de conversar com o ex-presidente da República. Integrante do grupo que articula no PT a indicação de Vaccarezza assegura que a intenção do grupo é manter a CPI nos termos em que foi requerida - a apurar o conteúdo das operações Monte Carlo e Vegas realizadas pela Polícia Federal (PF).

Se efetivamente conseguirem manter nesses limites, o mundo político seria atingido, aliás como quer Lula, por meio do governador do PSDB de Goiás, Marconi Perillo, e pelo senador do Democratas também de Goiás; o mundo empresarial por uma empresa ainda não claramente definida, muito embora a Delta Construções seja a mais visada da oposição, e nenhum integrante do governo federal. Mas no próprio grupo que articula a aliança PT-PMDB existe a avaliação de que a CPI "é de alto risco" e eventualmente pode atingir o governo.

A tentativa de organizar um comando para a CPMI, por isso, não exclui a constatação de que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito "criou perna própria", expressão usada pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA) à época de seu duelo com o falecido senador Antonio Carlos Magalhães e da criação da CPI dos Bancos, da qual foi um dos principais protagonistas, no final dos anos 90. Significa que o fato político pode seguir um curso natural, independentemente da vontade dos atores.

Embora Dilma não tenha entrado diretamente em contato com congressistas, a ministra Ideli Salvatti, coordenadora política do governo, procurou o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), com o objetivo de tratar da CPI. No Palácio do Planalto, a intenção declarada é que a CPMI não fique descontrolada, seja sóbria para não virar um espetáculo e que as investigações ocorram com responsabilidade, sem ir além do fato determinado para sua criação.

O presidente da CPMI será indicado pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Entre as várias cartas na mão, o nome dele mesmo, o de Romero Jucá, que foi destituído por Dilma da função de líder do governo, e o do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que chegou à noite de ontem na condição de favorito, no quadro do acordo PT-PMDB. Com a indicação Renan pode atrair para seu lado um dos integrantes do grupo dos oito que contestavam a hegemonia dos dois líderes (Renan e Jucá) e do presidente José Sarney na condução dos assuntos do Senado e na relação do PMDB com o governo.

O senador Eduardo Braga (AM), que sucedeu Jucá como lider no Senado, diz não ter recebido orientação da presidente Dilma sobre como a base aliada deve se comportar na CPMI. Integrantes do PMDB avaliam a possibilidade de escalá-lo para uma das vagas do partido. A ideia é responsabilizá-lo pela articulação dos senadores governistas. Braga viu a "casca de banana" e desviou o caminho. Como não recebeu orientação do governo, diz que não pretende integrar a comissão.