Título: Com a benção do arquiteto
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2010, Política, p. 5

ELEIÇÕES 2010 Evento pró-Dilma no Rio reúne personalidades como Oscar Niemeyer e Chico Buarque. Em São Paulo, petistas lavaram roupa suja

A noite foi de celebração entre intelectuais e artistas que declararam apoio a Dilma Rousseff, candidata à Presidência da República do PT. Nomes importantes ligados à arte no Brasil estiveram presentes no teatro Oi Casa Grande, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para um ato pró-Dilma. Os principais destaques foram o arquiteto Oscar Niemeyer ¿ que, aos 102 anos, fez questão de prestigiar o evento ¿ e o compositor Chico Buarque. O segundo, aliás, arrancou aplausos do público ao afirmar que o presidente Lula ¿não fala fino com Washington e nem grosso com a Bolívia e o Paraguai¿.

A reunião foi organizada pelo sociólogo Emir Sader e também teve a presença do teólogo Leonardo Boff, uma das personalidades que declarou voto em Marina Silva (PV) no primeiro turno e agora engorda as fileiras de apoio à candidata petista. Um dos objetivos do encontro com a presidenciável era entregar um manifesto de apoio, com cerca de 4 mil assinaturas, idealizado por Sader e pelo escritor Eric Nepomuceno.

A estratégia de reunir apoios fora do meio político para arejar a campanha é uma velha arma dos petistas. Quando disputava o segundo turno em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi ao Rio de Janeiro para aglomerar esse mesmo tipo de apoio. À época, Chico Buarque não compareceu, mas mandou uma mensagem que foi lida no encontro.

Enquanto o clima no Rio era de festa, em São Paulo o dia foi de lavagem de roupa suja. As recentes críticas de Dilma às realizações do governo paulista, comandado pelo PSDB, representaram um tiro no pé da campanha da petista no estado. Pelo menos essa é a avaliação de aliados, que agendaram uma reunião às pressas ontem para discutir o melhor caminho a fim de conquistar o eleitorado local. Na opinião de correligionários e apoiadores, atacar a gestão tucana em São Paulo regionaliza a discussão nacional em temas que o próprio eleitor paulista rejeitou ao eleger, em primeiro turno, Geraldo Alckmin (PSDB) para o governo local em detrimento do petista Aloizio Mercadante.

A reunião realizada ontem para definir qual é o melhor rumo a ser tomado acabou em discussão. Participantes do encontro classificaram como péssima a postura de Dilma no debate de domingo, cobraram o afastamento imediato de Mercadante e defenderam uma profissionalização do comando da campanha. Os aliados atribuem ao senador e candidato derrotado ao governo paulista a fomatação da estratégia para o estado.

O grupo decidiu que era necessário fazer uma correção de rota, nacionalizando o debate e colocando o pré-sal no centro do discurso. O mote será atacar a postura de Serra enquanto os projetos de lei eram votados no Congresso. O tucano preferiu abster-se da discussão a comprar brigas com os estados não produtores do insumo. Nesta semana, inclusive, haverá um ato na Baixada Santista de apoio ao atual modelo de exploração do petróleo na camada ultraprofunda marítima.

Segundo os aliados, os petistas se recusam a procurar políticos de outros partidos como PSB, PDT, PR e PSC para pedir empenho e mobilização. ¿Até agora, ninguém se mexe para nada, está deixando rolar¿, disse um político que esteve no encontro. ¿O PT não percebe que precisa de votos do eleitor mais conservador para ganhar¿, emendou. A reunião foi comandada pelo candidato a vice Michel Temer (PMDB-SP). Estiveram presentes os deputados Aldo Rebelo (PCdoB), Roberto Santiago (PV), Milton Monti (PR), Márcio França (PSB), José Genoino (PT), Arlindo Chinaglia (PT), além dos deputados recém-eleitos Gabriel Chalita (PSB) e pastor Marcos Feliciano (PSC), entre outros.

Minas Interessado em evitar que o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG) termine virando a eleição em Minas Gerais a favor de Serra, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi encarregado de organizar reuniões de Dilma com prefeitos, deputados federais e estaduais eleitos e derrotados. Além de Belo Horizonte, Dilma deve ir a Montes Claros. O ministro chega amanhã ao estado para visitar várias cidades, entre elas Governador Valadares e Muriaé.

COMPARAÇÕES ENTRE GOVERNOS » A presidenciável petista, Dilma Rousseff, usou a denúncia envolvendo Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, órgão ligado ao governo de São Paulo na gestão de José Serra (PSDB), para diferenciar os modos de atuação do governo Luiz Inácio Lula da Silva contra escândalos. Em entrevista ao Jornal Nacional, ontem, Dilma afirmou que o caso Erenice Guerra foi punido com a demissão da ex-ministra e a exoneração de parentes contratados por ela. Segundo Dilma, a administração tucana não investigou o ex-funcionário. Preto é acusado de embolsar R$ 4 milhões que seriam de doação para a campanha de Serra, além de ter beneficiado uma empresa que tem a filha como funcionária em obras do Rodoanel. (TP)

Colaboraram Denise Rothenburg e Igor Silveira