Título: Para pesquisadores, programas são desarticulados
Autor: Santos ,Chico
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2012, Especial, p. A16
O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV) diz que é necessário averiguar se o jovem de favelas que não estuda e nem trabalha, o chamado "nem-nem" no jargão acadêmico, está também fora do ensino técnico, fato que não estaria sendo captado pelos estudos feitos com base nas pesquisas do IBGE, que focam só o ensino regular. "É necessário saber se ele é nem-nem-nem", propõe.
Independentemente da precisão do diagnóstico, Neri reconhece que o problema é grave. Especialmente porque no Rio, segundo seus estudos, que têm também por base as pesquisas do IBGE, há uma inversão na pirâmide etária das favela em relação ao conjunto da cidade. Enquanto o Rio é hoje a capital brasileira de mais alta média de idade, nas favelas, de acordo com Neri, a situação não se repete.
Na Rocinha, maior favela individual da cidade, 39,8% da população tem entre 15 e 33 anos de idade, de acordo com Neri. No Complexo do Alemão a parcela também é alta, 32,8%. "Os problemas que são dos jovens são os problemas das favelas, porque elas têm muitos jovens", resume.
Neri disse que há muitas políticas de inserção dos jovens carentes, das favelas ou não, sendo adotadas e que ainda carecem de avaliação, como é o caso do Renda Melhor Jovem (os jovens com bom currículo no ensino médio estadual têm direito a uma verba mensal que se transforma em uma poupança a ser retirada no fim do curso) e o Cartão Família Carioca, que também recompensa o bom desempenho escolar.
Os economistas Adriana Fontes, do IETS, e Gustavo Morelli, da empresa Macroplan Prospectiva, estão preparando, sob encomenda do Sebrae-RJ, um estudo denominado "A Inclusão dos Jovens na "virada" do Rio de Janeiro", previsto para ficar pronto no segundo semestre, que deverá responder a boa parte das muitas perguntas que se apresentam sobre o tema.
Segundo Adriana, "há de fato uma variedade de iniciativas voltadas para jovens, oriundas de vários tipos de instituições, algumas visando a inserção produtiva, outras buscando o aumento de qualificação, ou estimulando o empreendedorismo de jovens". Mas afirma também que, na maioria dos casos, "são programas com reduzida cobertura, em termos de número de beneficiários e de abrangência territorial, e desarticulados".
Além de falta de coordenação, os pesquisadores estão identificando fragilidade nos sistemas de monitoramento e de avaliação de resultados. Adriana sugere que o programa UPP Social, parceria do Instituto Pereira Passos, da Prefeitura do Rio, com o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), cujo objetivo é justamente coordenar ações do setor público e do setor privado para a promoção do desenvolvimento socioeconômico das favelas pacificadas, pode ser uma alternativa para viabilizar essas oportunidades. (CS)