Título: Investimento produtivo cresce 22% no primeiro semestre
Autor: Lamucci, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Brasil, p. A3

O investimento na economia brasileira cresceu com força no primeiro semestre, em especial devido à robusta expansão do consumo de máquinas e equipamentos. Estudo do BNDES mostra que, de janeiro a junho, houve um avanço de 21,9% no consumo aparente (produção e importação, menos exportação) de bens de capital "sem rodas" em relação ao mesmo período de 2005 - essa categoria, criada pela instituição, engloba principalmente máquinas para o setor industrial, energia elétrica e construção civil. É um ritmo muito acima dos 11% registrados pelo segmento de bens de capital como um todo, prejudicado pelo mau desempenho do setor agrícola.

O economista Fernando Puga, assessor da secretaria de assuntos econômicos do BNDES, destaca a importância do crescimento do consumo de bens de capital "sem rodas", por refletir os investimentos mais diretamente voltados à "modernização, aumento de eficiência e expansão da capacidade produtiva".

Dentro dessa categoria, Puga chama a atenção para a forte expansão do segmento de bens de capital para infra-estrutura (setor elétrico e construção civil), que cresceu nada menos de 53,3%. Para ele, a forte expansão do crédito imobiliário e o investimento no setor de energia, especialmente na transmissão, ajudam a explicar esse desempenho, assim como outras obras de infra-estrutura - Puga cita a operação tapa-buraco, realizada nas estradas pelo governo federal no começo do ano, mas diz que elas não se limitam a isso.

Puga afirma que o forte aumento no consumo de bens de capital "sem rodas" tem sido puxado pela importação, que cresceu 30,1% no primeiro semestre, mas ressalta que a produção doméstica nesses segmentos também vai bem, com expansão de 12,3% no período.

O economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, diz que o aumento do consumo aparente de bens de capital para infra-estrutura é saudável, por indicar aumento da capacidade produtiva da economia. Ele lembra que, no primeiro semestre, a produção de bens de capital para energia elétrica e construção cresceram 37,1% e 17,5% em relação ao mesmo período de 2005, pela ordem.

Para Puga, o cenário macroeconômico é fundamental para explicar a expansão do investimento. "Os juros estão em queda, a inflação está baixa, e o crédito e a massa salarial estão em crescimento", resume ele, lembrando que as perspectivas para a Produto Interno Bruto (PIB) são positivas. Além disso, as empresas tiveram lucros expressivos e reduziram as dívidas, indicando que elas têm caixa.

Com isso, ainda que reconheça que dificilmente é possível manter uma taxa de crescimento de 21,9% por muito tempo, Puga avalia que as perspectivas para o investimento continuam favoráveis para os próximos meses.

Borges vai na mesma direção. A expectativa de que a economia brasileira possa crescer entre 3,5% e 4% de forma sustentada por alguns anos, que ele considera razoável, estimula as empresas a aumentar o investimento na modernização e ampliação da capacidade produtiva. Para Borges, o investimento deve crescer 7,5% neste ano. Ele estima expansão de 5,8% para a construção, que responde por 60% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), e de 12% para o consumo aparente de máquinas e equipamentos (equivalente aos outros 40%).

A sondagem conjuntural da indústria de transformação da FGV, realizada em julho, também indicou um panorama favorável para o investimento. Das 642 empresas consultadas, 53,6% projetam gastar mais com inversões neste ano do que em 2005 em termos reais, em valores corrigidos pela variação do Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI). Com base nas previsões dos empresários, o volume de investimentos como proporção das vendas deve ficar em 7% em 2006, acima dos 6,1% de 2005.

As empresas dos setores de bens de capital e de bens intermediários (que produzem insumos para a indústria) são as que mostram a maior disposição para investir. As primeiras planejam gastar 56,1% mais do que em 2005, e as segundas, 55,6%. Mas o valor a ser investido é bem maior no segmento de intermediários: 9,3% do valor das vendas, acima dos 8,1% de 2005, enquanto as empresas de bens de capital projetam aplicar cerca de 3,1% das vendas em investimentos, mesmo percentual de 2005.

O estudo do BNDES também analisa a evolução dos desembolsos da linha de crédito do Finame, para compra de máquinas e equipamentos. Houve queda de 13,1% no primeiro semestre nos desembolsos para o setor de bens de capital como um todo, muito influenciada pela crise do setor agrícola.

No caso dos bens de capital "sem rodas", a queda é menor, de 6,5%, movimento que se explica pela base de comparação elevada, diz Puga. Em 2005, os desembolsos para a categoria subiram 58%.