Título: Cai ritmo de demissões entre salários mais altos
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Brasil, p. A3

O volume total de postos de trabalho para os profissionais que ganham os salários mais altos continua diminuindo em 2006. No entanto, a diferença entre contratações e demissões na faixa entre cinco e dez salários mínimos (R$ 1,75 mil e R$ 3,5 mil) caiu pela metade na comparação entre os primeiros semestres de 2002 e 2006. Para os que ganham acima desse valor (mais de dez mínimos), a intensidade deste movimento também foi reduzida, mas em 42%. A informação é da economista Paula Montagner, assessora especial do ministro do Trabalho, Luiz Marinho e coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho.

No confronto entre os mesmos períodos deste ano e do ano passado, também ocorre uma melhora no quadro das faixas salariais mais altas. Nos primeiros seis meses de 2005, o saldo entre admissões e dispensas foi negativo em 42.021 vagas para quem ganha entre cinco e dez salários mínimos. Neste ano, a diferença foi de menos 32.777. Para quem recebe acima de dez mínimos por mês, o primeiro semestre do ano passado, foi de saldo negativo em 24.983 postos de trabalho. Em 2006, até junho, o saldo foi de menos 20.672 vagas.

"Continua o movimento de demitir quem ganha mais para contratar substitutos com salários menores, mas a intensidade é menor nesse processo", comenta Paula. Nos primeiros seis meses deste ano, a indústria reduziu 7.676 postos com salário acima de R$ 3,5 mil. O setor de serviços também eliminou, nesse período, 7.164 empregos formais nessa faixa salarial. Nesse grupo de renda mais alta, o saldo também foi negativo para o comércio (3.359) e para a construção (1.490).

Algumas características, diz Paula, explicam essa queda no saldo entre contratações e demissões nas vagas com carteira assinada para os salários mais altos. Nos ciclos de crescimento econômico, as grandes empresas tendem a manter empregados mais capacitados. A segunda marca desse comportamento do mercado de trabalho é que, as empresas menores ainda apresentam muita flutuação de desempenho e, na média, têm alta rotatividade de mão-de-obra. A terceira característica, segundo Paula, é positiva: a alta rotatividade também mostra disputa por talentos.

As políticas públicas, contudo, estão voltadas para os segmentos menos qualificados dos trabalhadores e não para os maiores salários - e portanto, de pessoas mais qualificadas. Essa política aparece na valorização mais intensa do salário mínimo. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, mostra que em 2004 cerca de 20% da população ocupada ainda ganhava menos que o salário mínimo. Paula explica que isso ocorre porque, na área agrícola, esses trabalhadores não são empregados e sua renda é menor que o valor do mínimo. Outra razão são as pessoas que trabalham menos que as 40 horas semanais.

Nas seis regiões metropolitanas, os números de janeiro a maio mostram que dois terços trabalham menos que 40 horas semanais. Um terço é formado pelos tradicionais informais: domésticas, por conta própria, pequenos empreendedores, trabalhadores familiares sem remuneração. No grupo das domésticas, muitas são diaristas e não conseguem trabalhar 40 horas semanais. "Não há sinal aparente de o aumento do mínimo ter se voltado contra o emprego em abril e maio deste ano", conclui Paula.

O impacto direto do salário mínimo na economia não é grande porque seu valor é baixo. Na massa salarial de 2004 (última PNAD disponível) o aumento de 10% do salário mínimo significou acréscimo de 1% no total.

Mas Paula alerta para a relevância dos impactos indiretos: mais consumo e menos pobreza. A assessora do ministro do Trabalho admite que é lenta a transmissão do aumento da renda do salário mínimo para o crescimento do consumo. Isso porque o que ocorre, num primeiro momento, é o pagamento de dívidas. Depois, melhora o consumo alimentar. Só num estágio posterior é que crescem as vendas dos produtos de maior valor. Paula adverte que, nessa conjuntura, é fundamental ampliar o acesso ao crédito, que, por sua vez, depende da formalidade do mercado de trabalho.