Título: Planalto e PT divergem sobre relator da CPI mista
Autor: Costa,Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2012, Política, p. A6

Criada ontem com o apoio de todos os partidos e estimulada pelo PT, a CPI mista que investigará as relações do suposto esquema ilegal de jogos de azar chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos com agentes públicos e o setor privado já provocou seus primeiros atritos. Os choques se dão entre o Palácio do Planalto e o PT em relação à definição do relator da comissão e dentro da bancada do partido na Câmara devido à escolha dos três deputados petistas titulares e os três que ficarão na suplência.

Apelidado de Carlinhos Cachoeira, Ramos foi preso pela Polícia Federal. Ontem, os principais cotados para assumir a relatoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito eram os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Cândido Vaccarezza (PT-SP). Ex-líder do governo na Câmara, Vaccarezza conta com os apoios do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PMDB, do presidente do PT, Rui Falcão, e dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Guido Mantega (Fazenda). O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu também respalda sua indicação.

Assim, embora a presidente Dilma Rousseff tenha pedido para seus ministros não se envolverem de corpo de alma na CPI, alguns dos integrantes do núcleo do governo estão ativos nas articulações. Dilma não quer ser pega de surpresa e está se informando com a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU). Os ministros já foram informados que não receberão proteção da presidente, se caírem nas malhas da CPI. Ela se comportará como fez com os ministros que deixaram o governo sob denúncias, mas defenderá aqueles que acredita terem sido acusados injustamente, como fez com o ex-ministro do Esporte Orlando Silva.

Por outro lado, o ex-líder do governo enfrenta a resistência da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. É ela quem está operando a CPI dentro do governo. No grupo político de Vaccarezza, atribui-se a Ideli as informações de que a presidente não gostaria de vê-lo na relatoria. Trata-se de um veto da própria Ideli, acreditam seus aliados. Mesmo assim, se não veta, Dilma também não apoiou seu antigo líder. Até agora, a presidente não se envolveu na disputa.

Já os adversários de Vaccarezza argumentam que sua nomeação para a relatoria da CPI poderia provocar problemas para o governo devido ao fato de o deputado já ter defendido a regulamentação dos jogos. A defesa de Vaccarezza é que ele advoga a legalização dos bingos até para que o jogo não fique refém da contravenção.

Já o deputado Paulo Teixeira conta com o apoio de Ideli, que também vê com simpatia a indicação do deputado Odair Cunha (MG). Os críticos do mineiro, entretanto, alegam que o parlamentar ainda é inexperiente. O favorito para presidir a CPI é o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que conta com as bênçãos da cúpula do PMDB e de Lula.

Há ainda uma disputa dentro da bancada do PT pelas seis cadeiras a que os deputados do partido terão direito. Foram sondados André Vargas (PR), Luiz Sérgio (RJ), Carlos Zarattini (SP), Henrique Fontana (RS) e Ricardo Berzoini (SP), além de Paulo Teixeira e Vaccarezza. No entanto, parlamentares que não fazem parte da cúpula partidária também se ofereceram para as vagas, como Amauri Teixeira (BA), Márcio Macêdo (SE), Vanderlei Siraque (SP), Dr. Rosinha (PR) e Marina Santanna (GO). O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), tem afirmado que só anunciará os escolhidos na terça-feira, pouco antes de expirar o prazo estipulado pela presidente em exercício do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES).

Formalmente, a CPI foi criada ontem, depois que Rose de Freitas leu em sessão o requerimento que pede a sua abertura. Na prática, entretanto, os líderes ainda precisam indicar os representantes de seus partidos até terça-feira, para que a comissão seja então instalada no dia seguinte. O requerimento foi assinado por 337 deputados e 72 senadores, superando o mínimo necessário de 171 e 27 assinaturas, respectivamente.