Título: Teck faz nova oferta e acirra disputa com a Vale pela Inco
Autor: Nakamura, Patrícia e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Empresas, p. A5

No mesmo dia em que a canadense Inco abriu as portas para discutir a oferta de compra de US$ 17,7 bilhões feita pela Vale do Rio Doce, a Teck Cominco, também do Canadá, decidiu contra-atacar. Maior produtora mundial de zinco, a concorrente da Vale melhorou sua oferta pelos ativos da Inco de 86 dólares canadenses por ação - equivalente a US$ 17,6 bilhões - para 89 dólares canadenses por ação. Isso eleva para US$ 17,8 bilhões. A proposta inicial da Teck venceria hoje. A Inco informou, no início da noite de ontem, que estudaria a nova proposta da Teck.

A nova proposta da Teck muda também a forma de pagamento. A primeira proposta previa o pagamento de 46% em dinheiro e o restante em ações da Teck. A segunda prevê pagamento de 80% em dinheiro e 20% em ações. A oferta é válida até o próximo dia 30, informou a empresa em comunicado. A oferta da Vale é de 86 dólares canadenses por ação, mas com pagamento de 100% em dinheiro.

Para fazer frente à proposta brasileira, a Teck Cominco anunciou que vai captar até US$ 5,1 bilhões com o BMO Capital Markets, Merrill Lynch Canada Inc., TD Securities Inc. e a CIBC World Markets Inc. "É a melhor e a última oferta a ser realizada pelos ativos da Inco", informou a nota da mineradora canadense.

"A Teck fará o possível para ampliar a oferta em dinheiro", informou John Kinsey, gerente da Caldwell Securities. "Eles decidiram atender ao apetite dos fundos de investimento, que querem dinheiro vivo."

A Vale não quis comentar a nova investida da Teck Cominco. Na última sexta-feira a mineradora brasileira anunciou uma oferta de US$ 17,7 bilhões, em dinheiro, para a aquisição de todas as ações da Inco, segunda maior produtora de níquel do mundo.

A oferta da canadense fez cair a cotação das ações da Vale mais uma vez na Bovespa, depois de terem ensaiado ao longo do pregão uma pequena recuperação. A ação ordinária caiu 1,78% fechando em R$ 46,70, depois de ter alcançado R$ 48,29. Já o papel preferencial declinou 1,06% encerrando o dia em R$ 40,86.

Já na Bolsa de Toronto as ações da Inco subiram 1,1%, cotadas a 89,76 dólares canadenses. Em 12 meses esses papéis tiveram valorização de 73%. As negociações com os papéis da Teck Cominco foram suspensas às 2 da tarde do horário local. Eram cotadas a 79,81 dólares canadenses, com alta de 1%. As ações da Phelps Dodge, empresa que corre por fora na disputa pela Inco, fechou a US$ 91,70 na Bolsa de Valores de Nova York. Nos últimos 12 meses os papéis da mineradora tiveram valorização de 60%.

O analista de mineração da Fator Corretora, José Alberto Baltieri, disse que o investidor voltou a ficar preocupado. "Vamos esperar pelo posicionamento da Vale. Ela pode jogar em cima dessa nova proposta da Teck." De acordo com cálculos preliminares do especialista, a Vale precisaria desembolsar US$ 600 milhões a mais para empatar com a oferta da Teck Cominco.

Na segunda-feira a Vale formalizou sua proposta não-solicitada de compra da Inco à comissão de valores mobiliários canadense. Em documento de 62 páginas obtido pelo Valor, a empresa dá detalhes sobre a oferta, que é válida até o dia 28 de setembro.

A oferta é feita pela CVRD Canada, subsidiária aberta especialmente para acompanhar a negociação. A empresa é dirigida por Pedro José Rodrigues. Em agosto do ano passado a Vale havia aberto outra empresa, a Rio Doce Holdings Canada Inc., para adquirir a Canico Resources, que mantinha o projeto de exploração de níquel Onça-Puma em Carajás (PA).

A oferta da Vale será válida somente no caso de a empresa conseguir adquirir pelo menos 66% dos papéis da Inco. Reiterou ainda o plano de fechar o capital da mineradora, por meio de uma oferta compulsória para comprar o restante das ações.

Os próprios conselheiros da Inco pareciam estar convencidos, antes da nova proposta da Teck, de que a oferta da Vale era mais vantajosa que a da mineradora americana Phelps Dodge e da canadense. O conselho de administração da Inco autorizou a direção a abrir negociações com a Vale, sob o argumento de que a oferta brasileira poderia resultar em "uma proposta superior".

De acordo com o "Financial Times", a Inco havia concordado anteriormente, em meados de junho, em apoiar o acordo com a Phelps Dodge, como parte de uma oferta conjunta pela Falconbridge, outra mineradora de níquel, com sede em Toronto. A Falconbridge, no entanto, acabou sucumbindo a uma oferta rival, da mineradora anglo-suíça Xstrata.

A Vale, separadamente, revelou que havia sido abordada pela Inco neste ano, como parte da estratégia da empresa canadense para defender-se contra a oferta da Teck. Os contatos foram encerrados um mês depois, quando a Inco armou a aliança com a Phelps Dodge.