Título: Petrobras vem desmontando sua operação no país
Autor: Schüffner ,Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2012, Internacional, p. A13

Desde 2009, a Petrobras vem desconstruindo cuidadosamente sua presença na Argentina. Vendeu a área de fertilizantes para a Bunge, demitiu 400 funcionários e se desfez da refinaria San Lorenzo, que dava prejuízo devido à alta carga de impostos que são cobradas de empresas de grande porte. O grupo Oil M&S, do empresário Cristóbal López, comprou 363 postos de serviços. A distribuição de combustíveis era grande demais para o tamanho da produção de petróleo e exigia gastos com importações.

A produção de óleo e gás é declinante. Em 2005 e 2006 a brasileira produziu cerca de 140 mil barris de óleo equivalente (óleo e gás) por dia e no ano passado a produção estava em 98 mil barris. A retirada da concessão de Veta Escondida, com potencial para recursos não convencionais, afeta a intenção da Petrobras se desverticalizar, dando foco para a exploração e produção.

A redução da presença tem razões financeiras, provocadas por ingerências políticas no setor que inviabilizaram novos investimentos para descobrir novas reservas. E a produção que existia vinha de campos maduros que começaram a perder produtividade. Atualmente o valor de livros da Petrobras na Argentina é de US$ 2,3 bilhões e a dívida total é de US$ 1,6 bilhão.

Um projeto de modernização da refinaria de Bahía Blanca, a única da estatal naquele país, não teria sido aprovada pelo conselho de administração no Brasil. Mas uma fonte a par da situação disse que o governo brasileiro não quer que a Petrobras saia da Argentina.

Uma fonte ouvida pelo Valor descreve a redução da Petrobras na Argentina, acentuada em 2009, como uma "construção da derrota". É uma referência ao desapontamento que foi o país que junto com os Estados Unidos era a maior aposta da Petrobras na estratégia de internacionalização desenhada na década passada.

A estatal chegou à Argentina pela distribuição, com a compra em 2000 da Eg3, após uma troca de ativos com a Repsol. Mas foi em 2002, com a aquisição da Peres Companc por US$ 1,1 bilhão, seguida pela petroleira Santa Fé, da Devon (US$ 89 milhões), que sua posição se tornou relevante. Na época, o então presidente da Petrobras, Francisco Gros (já falecido), afirmou que a Argentina era a "primeira parada" da Petrobras no exterior, justificando a opção pelo vizinho lembrando que a Argentina era a segunda maior economia da América do Sul e parceiro preferencial do Brasil no Mercosul. As expectativas não se confirmaram.

É grande a expectativa sobre o posicionamento da Petrobras na reunião de hoje entre a presidente da Petrobras, Graça Foster, o ministro do Planejamento da Argentina e interventor da YPF, Julio De Vido. De acordo com uma fonte próxima ao tema, em reunião com um funcionário da Petrobras na semana passada, antes da nacionalização da YPF, um funcionário do governo argentino disse que a brasileira teria papel importante "no que ia acontecer", sem dar esclarecimentos. Procurados, executivos da Petrobras não comentam sobre a Argentina.

De Vido vai encontrar uma executiva firme e que vem se mostrando muito direta quando se expressa. Graça já disse que recebeu com surpresa a notícia sobre o cancelamento da concessão Veta Escondida, na bacia de Neuquén, e desmentiu a justificativa argentina de que a Petrobras não investiu naquele país.

A estatal aplicou US$ 10 milhões em exploração na Argentina nos últimos três anos para cumprir o programa exploratório das áreas e furou um poço que se mostrou "seco" nesse bloco. Na terça-feira, quando esteve em um evento do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), a executiva informou que o plano era perfurar mais seis poços.

Na ocasião, também disse não ter sido informada sobre qualquer iniciativa do governo da Argentina de reverter a decisão tomada por autoridades da província de Neuquén e que não tinha conhecimento de qualquer plano da Argentina de solicitar associação com a Petrobras para novos investimentos.