Título: Faturamento das maiores cresce mais do que o PIB
Autor: Felix, Antonio
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Especial, p. A6
As mil maiores empresas no Brasil por receita líquida conseguiram manter em 2005 o mesmo bom nível de rentabilidade obtido em 2004, apesar do ritmo mais modesto de crescimento da economia, de acordo com dados do anuário "Valor 1000", que circula hoje para assinantes e venda em bancas. Na média, as companhias tiveram lucro líquido equivalente a 16,3% do patrimônio líquido. Em 2004, a rentabilidade tinha sido de 16,6%. O faturamento conjunto das mil maiores, que atingiu R$ 1,2 trilhão, teve crescimento de 11,3% em 2005 - o PIB do país avançou apenas 2,3% no ano.
Além de apresentar o ranking das mil maiores empresas por receita, o anuário aponta as campeãs de 27 setores, escolhidas com base em dados de balanço. As campeãs foram premiadas na noite de ontem, em cerimônia da qual participou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O anuário escolhe ainda, entre as 27 campeãs, a Empresa de Valor. O nome da vencedora, a Sabesp, foi anunciado durante a solenidade.
Em geral, as mil maiores empresas souberam contornar adversidades como o real valorizado e juros altos e tirar proveito de uma demanda mundial aquecida, da boa liquidez internacional e, no campo interno, de melhoras no emprego e na renda. Nesse contexto, os setores de maior rentabilidade foram mineração (45,9%), petróleo e gás (26,3%) e metalurgia e siderurgia (26,1%).
Os bons resultados, contudo, tiveram como base também os ganhos de eficiência das companhias, segundo Marcio Torres, gerente de crédito da Serasa - parceira do Valor, junto com a FGV/Eaesp, na preparação dos levantamentos e critérios do anuário. "Com a lucratividade obtida nos últimos anos, as empresas fortaleceram sua estrutura de capitais e empurraram para 41,7% do patrimônio o nível de endividamento oneroso", diz Torres. O endividamento oneroso, basicamente dívidas bancárias, chegou a representar 82,1% do patrimônio em 2002.
O bom desempenho das maiores teve ainda a influência da indústria que, pelo segundo ano consecutivo, puxou o crescimento do PIB nacional. Em 2005, o PIB da indústria avançou 2,5%, enquanto o de serviços e o da agropecuária apenas 2% e 0,8% respectivamente. Essa influência fica clara quando se observa que das 1000 empresas do ranking, 445 têm atuação, principalmente, no ramo industrial, diz Willian Volpato, gerente do Valor Data. No conjunto, elas têm receita de R$ 513,5 bilhões, equivalente a 44% do total das 1000 maiores. "Há crescimento em todas as rubricas", diz Volpato.
Uma das conseqüências do fato de a indústria ter se saído relativamente melhor do que agronegócios e serviços foi alterar uma tendência registrada desde a primeira edição de "Valor 1000", há seis anos. O Sudeste, onde se concentra a atividade industrial do país, perdia espaço ano a ano no volume de receita das mil maiores. Em 2000, 77,4% da receita total estava no Sudeste. Em 2004, 72,6%. Com a melhora da indústria e os problemas das regiões agrícolas, a participação do Sudeste na receita subiu em 2005 para 74,2%.
Algumas corporações que figuram no topo da lista ajudaram a puxar esse crescimento e provocaram alterações no ranking. O caso mais significativo é a ascensão da Vale do Rio Doce. Com crescimento de 30,6% na receita líquida, a mineradora passou da nona para a quarta posição entre as maiores empresas no país, beneficiada por mais um ano de demanda internacional aquecida e forte reajuste de preços. A Vale apresentou a segunda posição em lucro líquido, lucro da atividade e Ebitda. Nos três quesitos perde apenas para Petrobras, líder absoluta do "Valor 1000".