Título: Disputa política não interfere em decisão de investimentos
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Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Especial, p. A7

Mais quatro anos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou uma nova experiência com Geraldo Alckmin (PSDB) na Presidência da República? Seja qual for o resultado das próximas eleições, a disputa eleitoral parece não entrar na lista de problemas de curto prazo para a maioria dos executivos presentes ontem à premiação do "Valor 1000". Há uma sensação de quem quer que seja o vencedor - a maioria tende a votar no tucano, mas acredita na vitória do petista - nada muda.

"Não existe nada que Lula possa fazer de diferente do que já fez ou Alckmin diferente do que Lula fez", avalia Vítor Mamanna, presidente da Cinpal. Na sua empresa, diz, os investimentos seguem normalmente, independentemente do resultado das eleições.

A Telemar também não pretende mudar seus planos de investimentos por causa das eleições no segundo semestre. "Não vejo motivo para fazer alterações. Somos uma concessionária de serviço público, que deve investir de acordo com a demanda", diz Luiz Eduardo Falco, presidente da Telemar.

Se não existe temor sobre grandes solavancos na economia, os executivos destacam pequenas diferenças de estilo entre os dois candidatos. Claudio Luiz Lottenberg, presidente do hospital Albert Einstein, avalia que se Lula vencer, irá acelerar medidas para reduzir os juros. Se for Alckmin, Lottenberg acredita que ele será mais agressivo nos investimentos. "Vejo um compromisso maior dele (Alckmin) com medidas de longo prazo, como infra-estrutura, enquanto o Lula é mais imediatista, com o Bolsa-Família."

Para Wagner José Quirici, diretor presidente da Serpro, o segundo mandato tende a ser uma consolidação do primeiro. "No primeiro mandato, normalmente é um processo de aprendizado, se iniciam projetos", disse. O principal diferencial do segundo mandato será a política mais focada no desenvolvimento.

O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Júnior, diz que a empresa já considera Lula reeleito. O executivo diz que espera um segundo governo mais tranqüilo, inclusive para reformas importantes, como a política.

Na lista de prioridades para os próximos quatro anos, os executivos incluem a reforma tributária, o equilíbrio das contas públicas, a educação, o desenvolvimento econômico e a redução dos impostos. "É preciso reduzir a máquina, reduzir impostos e aumentar os investimentos", diz Falcon.

O presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, não revelou seu voto, mas disse que o novo presidente precisa ter um planejamento para o crescimento do país, independente de partido, política. E fez críticas. "O Brasil cresceu pouco, enquanto o mundo cresce pelo menos duas vezes o que crescemos. Estamos perdendo o bonde do crescimento, estamos ficando para trás", diz. Utsch acredita que a prioridade no novo governo precisa ser educação.

O presidente da Rio Negro, Carlos Loureiro, concorda. Ele destaca que a força de Lula é muito grande e que só um fato como um "terremoto" poderia fazer Alckmin ganhar. Ele acredita que o segundo mandato de Lula seria focado no crescimento, porque a economia está em ordem, com inflação sob controle, juros em queda e balança comercial com superávit. O grande alvo do governo deveria ser a atração de investimentos.

Para o presidente da Samarco Mineração, José Tadeu de Morais, o que preocupa é a taxa de câmbio no atual patamar de R$ 2,15, uma vez que sua empresa é quase 100% exportadora. A seu ver esse é o calcanhar de Aquiles do atual governo, uma vez que os fundamentos da economia estão sólidos. Em um provável segundo mandato, Morais acredita que Lula deverá se voltar para o crescimento econômico do país e para o desenvolvimento social, mas ressalta que um dos problemas que enfrentará é a governabilidade, com mais dificuldade para costurar alianças.

Antonio Luiz Rios, presidente da Visanet, tem uma avaliação parecida. Para ele, a vitória de Lula parece certa, mas o segundo mandato tende a ser pior, pela base de apoio debilitada e pelo próprio jeito como conduziu o primeiro mandato. "Os ventos sopraram a favor no primeiro mandato. Não podemos contar que isso vai se repetir no segundo." O executivo afirma que a política de negócios não será alterada, independente de quem ganhe as eleições.

Flávio Azevedo, presidente da V&B Tubes do Brasil, prefere não fazer previsões. "É difícil dizer alguma coisa porque a campanha de Alckmin fora das regiões Sul e Sudeste começa agora." Mas Azevedo afirma que, se Lula ganhar - conforme apontam as pesquisas atualmente -, ele deverá priorizar mais os investimentos, com uma política monetária diferente, pautada por juros menores.

Décio da Silva, presidente da WEG Motores, concorda que ainda é cedo para previsões. "O horário político começou agora e a mídia vai ter papel importante para definir o próximo presidente". Mas independente de quem ganhar, a influência do próximo presidente nos negócios da WEG será muito baixa.