Título: Encomendas indicam fim de ano moderado
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Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Especial, p. A7

A economia brasileira vai crescer mais no segundo semestre deste ano, mas a velocidade deste crescimento será compatível com um aumento de 3% a 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB). O ritmo atual de encomendas é bom, mas não corrobora a previsão de uma evolução de 4% no PIB, como tem apostado o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ao mesmo tempo, o aumento da inadimplência no sistema financeiro, a violência em São Paulo e os sinais de formação de estoques na indústria não levaram as empresas à redução das projeções para 2006. Assim, o fim de ano desenhado pelos empresários que participaram, ontem à noite, da entrega do Prêmio "Empresa de Valor" de 2006 do anuário "Valor 1000", é igual àquele planejado no começo de 2006.

A crise da violência em São Paulo está prejudicando os negócios, segundo o presidente da Semp Toshiba, Afonso Antonio Hennel. Segundo ele, o grau de confiança do consumidor caiu e há um sentimento de retração. "As pessoas estão mais em casa por medo de sair às ruas, mas também estão mais inseguras e isto afeta as decisões de compra", afirma Hennel. Ele disse, porém, que as vendas no segundo semestre do ano estão se comportando de acordo com o previsto.

A tendência é o segundo semestre repetir o acréscimo de faturamento do mesmo período do ano passado e isso significa um faturamento 20% maior do que no primeiro semestre, diz João Queiroz Galvão, presidente da Queiroz Galvão. "A nossa projeção continua a mesma do início do ano, diz. A expectativa é fechar 2006 com faturamento de R$ 1,5 bilhão, frente a R$ 1 bilhão em 2005

O presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, avalia que o segundo semestre será melhor, já que o primeiro foi ruim devido à Copa do Mundo, quando as pessoas não foram às compras. "As vendas devem ser 10% maiores do que no primeiro semestre", diz. Ele lembra que, historicamente, o segundo semestre sempre é mais forte em anos eleitorais.

O presidente da Cinpal, autopeças de capital nacional, Vitor Mammana, está surpreso em ver que as vendas neste início de segundo semestre continuam aquecidas a despeito das projeções sombrias. "Sabemos que o setor de máquinas agrícolas e a indústria de caminhões, onde se concentram nossos clientes, enfrentam dificuldades, mas não percebemos isso nas vendas para o mercado interno. Resta saber de onde vem essa mágica, talvez da exportação dessas empresas", afirma o empresário. A Cinpal mantém a expectativa de crescer 5%, meta que ele considera modesta e igual à projetada na primeira metade do ano.

O presidente da fabricante de embalagens Rigesa, Paulo Tilkian, não mudou sua projeção de crescimento de 4% para este ano. No entanto, explicou que a demanda interna tem conseguido compensar as vendas externas, punidas pelo atual nível de câmbio.

A sazonalidade de alguns produtos vai fazer com que o segundo semestre seja melhor do que o primeiro, avalia Décio da Silva, presidente da WEG Motores. As expectativas da empresa não mudaram em relação ao início do ano. "Houve pouca alteração na economia. O dólar baixo continua deixando as empresas menos competitivas", disse. Nesse cenário, alguns setores, como papel e celulose, mineração e siderurgia, vão muito bem, outros nem tanto, incluindo os fabricantes de máquinas e equipamentos.

O presidente da distribuidora Rio Negro, Carlos Loureiro, confirma os bons ventos da siderurgia e acredita que a economia no segundo semestre está melhor do que no primeiro. Ele estima crescimento de 8% a 9% no segmento de aços planos, puxado pela indústria automotiva e linha branca. O que desaponta, diz ele, são os setores que dependem de investimentos públicos, como infra-estrutura. "O que dá maior sustentação à economia é a maior disponibilidade de renda em poder da classe consumidora", explica o empresário, que projeta 3,5% para o PIB deste ano. Esta é, também a previsão do presidente da CPFL, Wilson Ferreira Júnior, para a economia este ano.

A boa demanda por açúcar e álcool e os altos preços do petróleo sustentam o setor sucroalcooleiro e, por isso, o empresário Bernardo Biagi, presidente da Usina Batatais, não alterou seus planos para 2006. A expectativa é de que as vendas de açúcar e álcool cresçam cerca de 10% nesta safra, a 2006/07 sobre 2005/06. "O setor sucroalcooleiro está descolado da economia nacional", lembra.

Assim como o setor sucroalcooleiro, que vivencia um bom momento, o setor de café também deve colher bons resultados em 2006. Segundo Jair Coser, presidente da trading Unicafé, a receita do grupo com as exportações e vendas no mercado interno deverá atingir US$ 300 milhões, alta de 15% em relação a igual período de 2005. Coser não alterou seu planejamento desde o início do ano. O empresário afirma, contudo, que o dólar desvalorizado sobre o real reduziu os ganhos do setor, que exporta quase dois terços de sua produção. "Estamos na contramão da economia", disse.

Para o presidente da Samarco Mineração, José Tadeu de Morais, a taxa de câmbio é o calcanhar de Aquiles do atual governo, uma vez que os fundamentos da economia estão sólidos. "Cada vez recebemos menos reais pelas nossas vendas" Segundo ele, se mantida nesse nível, ela vai afetar as exportações do país e os investimentos.

O presidente da White Martins, Domingos Bulus, vê uma perspectiva melhor de negócios para sua empresa neste semestre, devido à maturação de negócios nas áreas de siderurgia, de onde obtém grande parte de suas vendas, e na área de gás natural. "Julho começou a apontar melhorias, mas nada de espetacular, pois estamos recebendo alguns sinais trocados do mercado."