Título: Na estréia, Lula esconde o PT e Alckmin, a segurança pública
Autor: Costa, Raymundo e Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Política, p. A8

Ao contrário de suas quatro passadas campanhas, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva escondeu o vermelho, a estrela e o número 13 do PT no primeiro programa do horário eleitoral gratuito da eleição presidencial de 2006. O objetivo foi calculado: descolar a imagem do presidente do partido acusado de comandar a compra de votos de deputados no Congresso, o chamado mensalão.

No primeiro programa, exibido à tarde, a campanha de Lula tratou de ministrar uma "vacina", segundo a expressão dos marqueteiros políticos, para tentar imunizar o presidente contra a crise ética que envolveu o governo ano passado. O próprio Lula, depois de pedir "outro voto de confiança" ao eleitor, o presidente igualou o PT ao PSDB, Dirceu e Palocci ao senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e ao deputado Roberto Brant (PFL-MG), também acusados de receber recursos 'não contabilizados' do publicitário Marcos Valério, o operador do mensalão: "A crise ética que abateu todo o país é a crise de todo o sistema político e não apenas de alguns partidos ou de determinadas pessoas", disse o presidente-candidato. "Os que cometeram erros precisam ser punidos", acrescentou. Lula defendeu a reforma política como solução para a crise, que considerou prioritária num eventual segundo mandato.

O vermelho, a estrela e o 13 sempre foram símbolos marcantes nas quatro campanhas passadas de Lula a presidente. No governo, a estrela do PT chegou a ser cultivada nos jardins do Palácio da Alvorada. As imagens do programa de Geraldo Alckmin obedeceram ao padrão azul-tucano, mas o candidato também foi econômico nas referências a seu partido. Também calculadamente: é uma tentativa de descolar Alckmin do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. As referências mais calorosas foram ao ex-governador Mário Covas, morto em 2001, de quem Alckmin herdou o governo do Estado de São Paulo.

Reprodução da TV O candidato tucano também tratou de aplicar, logo no primeiro programa, sua "vacina" eleitoral: "O meu jeito (de governar) é diferente", disse. "Primeiro é continuar e melhorar as coisas que já estão andando. Por exemplo: o Bolsa Família tem que ser mantido, ampliado e melhorado", prometeu o tucano, prevenindo-se a um ataque anunciado da campanha de Lula - o de que ele, se eleito, iria acabar com o principal programa social do governo do PT. Em seu programa, Lula diria que o melhor para o país agora é avançar a partir do que já foi feito a "começar do zero". Alckmin fez uma breve menção ao problema da segurança pública em São Paulo, o calcanhar de Aquiles de sua campanha.

Com entrevistas de pessoas que moram em São Paulo, mas procedem de outros Estados do país, seu programa procurou 'abrasileirar-se'. Tentou passar a imagem de que, tendo estado no Palácio dos Bandeirantes, o tucano governou gente de todo o país. "São Paulo é uma terra de gente valente e trabalhadora, com gente de todos os cantos do país. (...) Nos últimos anos todos esse brasileiros que vivem em São Paulo aprenderam a conhecer e a respeitar um governante sério", disse o locutor.

Lula aplicou uma "vacina" também contra as críticas que seus principais adversários fazem à gestão econômica, segundo a qual o país cresce pouco numa conjuntura mundial altamente favorável. "Em termos quantitativos, alguns países cresceram mais que a gente", disse Lula, "porém, nenhum cresceu com mais qualidade". A idéia dos estrategistas de Lula é dizer que, de fato, países como a China cresceram índices extraordinários, mas não mexeram na estrutura de distribuição de renda. Já o governo Lula, além de poder mostrar inflação baixa e contas equilibradas, poderá afirmar que a desigualdade comprovadamente diminuiu no período.

Ao esconder o PT, a campanha de Lula procurou estabelecer a ligação direta entre o presidente e o eleitor - "Lula é a cara do povo brasileiro" - e fixar as obras que ele já realizou. Mas o número 13, ausente à tarde, voltou no encerramento do programa da noite. Em verde e amarelo. Até porque é o número que o eleitor deve digitar na urna, se escolher Lula para um segundo mandato.

Com pouco tempo, a candidata Heloísa Helena (P-SOL) se apresentou como nascida de "uma família humilde no sertão de Alagoas". E atacou indiretamente o governo federal. "Você com seu voto pode dar exemplo mais belo não votando em político corrupto, que engana os pobres e governa para os banqueiros. Que finge que não vê roubalheira, mensalão, sanguessuga, mas cinicamente vive em conluio com eles."

Em São Paulo, o tempo destinado à propaganda dos candidatos proporcionais, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, apareceu elogiando o crescimento econômico, dizendo que fez sua parte no governo e que quer continuar a trabalhar pelo país no Congresso.

Dos deputados paulistas que protagonizaram polêmicas ao longo de seu mandato, ainda apareceram na estréia do horário eleitoral a petista Ângela Guadagnin. O candidato Valdemar Costa Neto (PL-SP), que renunciou para não ser cassado, fez nova confissão pública sobre o recebimento de dinheiro do "mensalão". "Eu errei e só me restava dois caminhos: abandonar a vida pública ou ficar, reconhecer o erro e começar tudo de novo", afirmou. (Colaborou Cristiane Agostine)