Título: Pesquisa aponta dificuldades para obter sucesso com exportações
Autor: Aguilar, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Caderno Especial, p. F2

Uma pesquisa concluída no final de julho pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), divulgada com exclusividade, mostra que no primeiro semestre deste ano 60% das micro e pequenas indústrias do Estado de SP exportaram. Dentre as exportadoras, 76% do volume enviado para outros países representaram, em média, até 15% do faturamento delas.

"A pesquisa deixa claro que a micro, pequena e média empresa tem dificuldade de ingressar no mercado externo. Há necessidade de buscar mecanismos para mudar essa realidade", afirma o diretor titular de Comércio exterior do Ciesp, Humberto Barbato. É importante ressaltar que, de acordo com os critérios do Ciesp, micro empresas são aquelas com até nove empregados, enquanto que as pequenas podem ter de 10 a 99 funcionários. As médias empresas possuem de 100 a 499 empregados. Acima desse número, são consideradas grandes.

Na pesquisa, 350 empresários responderam ao questionário enviado a um total de 9 mil empresas. Como o Estado de São Paulo responde por 40% das exportações de manufaturados do Brasil, por concentrar o maior número de indústrias de todos os portes, pode-se dizer que retrata uma realidade de todo o país.

As 40% das entrevistadas que não exportam argumentaram ter capacidade de produção insuficiente devido à concorrência com os produtos chineses e com os custos de logística. Também alegaram conhecimento insuficiente da legislação ou mercado externo e procedimentos burocráticos associados à exportação e valorização do câmbio.

O número de empresas brasileiras exportadoras aumentou continuamente de 1997 a 2004. Passou de 13.850 para 18.608, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No entanto, em 2005, um total de 951 empresas, que exportam até US$ 100 mil, deixou de atuar em mercados externos.

No primeiro semestre de 2006, 1.156 empresas que exportam até US$ 400 mil passaram a produzir apenas para o mercado doméstico. Eram 14.942 empresas exportando de janeiro a junho de 2005. No primeiro semestre deste ano, são 13.786. Segundo a AEB, no final de 2006, o número de exportadoras será de 16.200 ante 17.657 em 2005.

"Apesar de os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior incluírem micro, pequenas, médias e grandes empresas, a maior parte das que deixaram de exportar são micro e pequenas. Elas sofrem as piores conseqüências com a valorização do câmbio", diz o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.

Na pesquisa, o Ciesp perguntou aos empresários qual seria o valor mínimo aceitável da cotação do real. Um valor superior a R$ 2,50 por dólar liderou as respostas. Representou 60% das respostas dos microempresários, 33,3% dos pequenos e 29,6%, dos médios empresários.

A valorização cambial foi mencionada como o principal problema para as empresas manterem a atividade exportadora, superando outros itens como falta de demanda, capacidade de produção insuficiente, burocracia, falta de conhecimento da política externa, etc.

"Além do entrave em relação à taxa cambial, a micro e pequena indústria compra menor quantidade de matéria-prima, portanto o poder de negociação é reduzido. O custo de produção também é maior, pois nem sempre há recursos disponíveis para investimentos em tecnologia", diz Castro.

Há 37 anos atuando no setor calçadista, a Werner Calçados , com sede em Três Coroas, a 70 quilômetros de Porto Alegre, tem 40% do faturamento representado pela exportação de calçados femininos, estilo clássico, com detalhes artesanais, de alto valor agregado. A exportação é pulverizada para pequenas redes de lojas sofisticadas em diferentes mercados: Estados Unidos, África do Sul, países da Europa e da América Latina.

O sócio-proprietário da pequena empresa, Werner Arthur Muller Junior, explica que as exportações começaram em 2002, com ápice em 2004. No ano seguinte, quando o câmbio valorizou, a empresa começou a sentir os primeiros efeitos. "Os clientes do exterior que compravam 1 mil pares começaram a pedir 500. Com o real valorizado, o preço do nosso produto aumentou comparado ao de outros países", afirma.

Apesar da mudança de cenário, as exportações continuam representando 40% do faturamento. "Para isso, foi necessário reduzir 15% da estrutura da fábrica", explica Müller, e assim continuar atendendo todos os mercados, mesmo com a redução de pedidos. "Reconquistar a confiança do cliente no exterior pode levar até dois anos, mesmo tendo preço competitivo", diz

Na pesquisa feita pelo Ciesp, os países do Mercosul recebem a maior parte das exportações de micro (33,3%), pequenas (28,6%) e médias (28,1%). Os países europeus têm o mesmo peso do Mercosul quando se trata das micro empresas (33,3%). Na seqüência, destacam-se os demais países da América Latina . Eles recebem, em média, 20% das exportações brasileiras nos três níveis de empresas.

Também chama a atenção a importância dos Estados Unidos como mercado para empresas de pequeno porte (12%) e de médio porte (13,1%). "Os números mostram que o governo brasileiro precisa ser mais pragmático nas negociações com os Estados Unidos e aumentar o relacionamento com os norte-americanos", afirma Barbato.