Título: Irmãos Ferreira, os reis do pano de prato
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Caderno Especial, p. F5

Não faz muito tempo que os sacos de algodão que transportavam o açúcar das usinas do Nordeste ganhavam adornos, pinturas e bordados e viravam panos de prato, lençóis, toalhas e outras peças do enxoval doméstico da população pobre da região. Quando as usinas trocaram o algodão pela ráfia, e a escassez da matéria-prima levou os tecelões de Jardim de Piranhas a aumentar a produção de tecido, o que parecia ser um problema impulsionou a produção local, conhecido hoje como a terra do pano de prato.

O empresário Renato Ferreira, sócio da Enxutex Têxtil, empresa emblemática do APL do Seridó, tem uma versão de sucesso dessa história, iniciada quando ele ainda era criança e trabalhava no tear manual da família.

A Enxutex, em parceria com a Tecelagem São Geraldo, do irmão Geraldo Ferreira, produz pano de chão, panos de prato e jogos americanos distribuídos em quase todo o Brasil. As duas têm capacidade de processar, mensalmente, até 20 toneladas de fio A 8, que rende 200 mil unidades de panos de prato. O faturamento das duas empresas chega a R$ 130 mil por mês.

O incentivo fiscal do governo do Estado para a compra da matéria-prima reduziu a 1% o ICMS, que passou a ser cobrado sobre o produto acabado e não mais sobre o fio de algodão. O apoio estimulou o empresário a diversificar seus itens e, a partir de outubro, começa a produzir toalhas de banho. Para Verônica Pontes, gestora do APL, a Enxutex é um exemplo da absorção da capacitação gerencial e produtiva. "O empresário ampliou a estrutura física da empresa, reorganizou a produção e criou novos produtos, saindo do pano de prato popular e buscando mercados diferenciados", avalia.

A inserção em outros mercados se dá com a participação de eventos como a Feira da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD), realizada em Curitiba, no início de agosto, e onde empresários do APL receberam visitas de distribuidores das Lojas Americanas e do Martins, grande atacadista de Minas Gerais.

Para Ferreira, as capacitações, iniciadas há dois anos, foram muito bem-vindas. "Desde os cursos básicos de informática até a introdução dos conceitos de Produção Mais Limpa (P+L), tudo foi importante". Com o P+L, a empresa fez descartes e além de espaço físico, identificou suas "mazelas" como o desperdício de matéria-prima e o descontrole do horário de trabalho. Descobriu também que poderia reciclar embalagens de fios que hoje são reutilizadas na própria linha de produção. Outros materiais, como as estopas, passaram a ser vendidos a indústrias de beneficiamento no Recife e em Fortaleza. "O descarte mostrou o quanto jogávamos de matéria-prima no lixo sem critério e conseguimos uma economia de 2% com o aproveitamento do que era jogado fora", avalia Ferreira. A inserção do Planejamento e Controle da Produção (PCP) segundo ele, aparecem no faturamento que teve um crescimento de 20%. (E.R.)