Título: Inovação é o meio para obter empréstimo
Autor: Terzian, Françoise
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Caderno Especial, p. F7

Empresas inovadoras têm mais chances de crescer, de se destacar da concorrência e também de obter apoio financeiro do governo federal, em comparação aos negócios tradicionais. Se forem pequenas e atuarem de acordo com a política industrial brasileira, então, suas chances se multiplicam. "O Brasil precisa de empresas que transformem conhecimento em produto, assim como fazem EUA, Finlândia (com telecom) e Índia (com software)", afirma Eduardo Moreira da Costa, superintendente da área de pequenas empresas inovadoras da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a Finep está trabalhando em três novos programas que devem tirar muitas pequenas indústrias do anonimato e transformá-las em casos de sucesso. Para promover este crescimento, a Finep opera das seguintes formas: empréstimo de dinheiro; dinheiro a fundo perdido, agora chamado de subvenção; e capital de risco (venture capital), no qual fundos de investimentos são formados para comprar ações de empresas inovadoras.

Em qualquer um dos casos, só terão chances as empresas que apresentarem projetos de inovação de produto, de tecnologia, de processo de fabricação ou de mercado, agregando sempre novas funcionalidades ou características que impliquem melhorias de qualidade ou produtividade.

Micro e pequenas empresas que precisam de capital para dar andamento a projetos inovadores contam, desde janeiro, com o Programa Juro Zero. Embora ainda esteja em fase piloto, o programa que visa estimular o desenvolvimento dos pequenos negócios inovadores já atraiu a atenção de mais de uma centena de empresas interessadas na proposta de empréstimos sem juros e pagamento dividido em 100 parcelas.

Dirigido a empresas inovadoras com faturamento anual de até R$ 10,5 milhões, o Juro Zero oferece financiamentos que variam de R$ 100 mil a R$ 900 mil, corrigidos apenas pelo índice da inflação - Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Costa explica que não há carência e o empresário começa a pagar no mês seguinte à liberação do empréstimo.

Com oito anos para pagar, o Juro Zero opera atualmente em cinco localidades, sendo duas cidades (Florianópolis e Recife) e três Estados (Paraná, Minas Gerais e Bahia). Neste segundo semestre, o programa deve se estender a São Paulo e Rio. As regiões de interesse são aquelas onde há grande concentração de universidades, o que automaticamente atrai empresas inovadoras em seu entorno.

Costa diz que 10 empresas foram aprovadas para participar do programa e cem encontram-se em processo de análise. "Em três anos, deveremos atender mais de mil empresas inovadoras", prevê. Uma das selecionadas para receber o empréstimo é a paranaense Bioaccess Tecnologia em Biometria, que atua no ramo de biosegurança. Ela foi escolhida por conta de um projeto de desenvolvimento de módulos para tratar informações de sensores de leitura de impressões digitais e de imagens para reconhecimento da face.

Os recursos do Juro Zero vêm do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), com juros subsidiados por fundos setoriais do MCT.

O segundo tipo de ajuda que a Finep presta às empresas inovadoras é o dinheiro a fundo perdido. Voltado para negócios de todos os portes, o programa vai direcionar 50% do seu montante de R$ 250 milhões às pequenas empresas. Cada projeto deve consumir, em média, de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões. As empresas preferidas são as que apostam em biotecnologia e em software.

O terceiro modelo se chama Incubadora de Fundos, no qual a Finep promove 25% do capital e investidores se unem para criar o fundo. Uma vez por ano, a empresa pública inicia a seleção de empresas. Até o momento, já foram aprovados 10 fundos de investimentos.

Cada fundo investe em uma média de 10 empresas. Cada empresa, recebe cerca de R$ 4 milhões. "Este é o programa mais seletivo e inteligente de todos para entrada de capital", analista Costa. Nesta modalidade, uma parte da empresa é vendida, mantendo a participação majoritária com o dono. "De cada 10 empresas que recebem o capital de risco, duas quebram, duas fazem sucesso e seis obtêm um lucro pequeno", diz.