Título: Fornecedor de bancos investe na terceirização de caixas eletrônicos
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Empresas, p. B2

Nos próximos dias, a Procomp, subsidiária brasileira da americana Diebold, inaugura o seu centro global de sistemas e serviços para bancos. Com a iniciativa, que receberá investimentos de R$ 10 milhões nos próximos três anos, a Diebold pretende fazer da operação brasileira sua base mundial de desenvolvimento de software para suportar caixas de atendimento automático (ATMs) nos 89 países onde atua. A divisão, segundo o presidente da subsidiária, João Abud Júnior, já nasce com contratos fechados na Colômbia e Venezuela. Outros acordos são negociados em países como África do Sul, Canadá, Índia e México. "Vamos exportar softwares para monitoramento total dos ATMs, adaptando estes sistemas para a realidade de cada local", afirma.

A decisão da companhia centralizar as operações no Brasil está ligada à participação que a subsidiária detém no mercado nacional. Dos 150 mil caixas automáticos instalados no país, cerca de 75 são fornecidos pela Procomp, segundo Abud Júnior.

O desafio maior da empresa, no entanto, não é ampliar - ou mesmo manter - sua fatia de mercado na venda de equipamentos. Tal como suas principais concorrentes no setor - Itautec, Perto e NCR -, a Procomp trabalha para acelerar a oferta de serviços em torno dos ATMs, uma forma de ampliar os lucros, até então limitados à venda de sistemas e hardware.

Nessa onda de terceirização total, as fornecedoras de tecnologia passam a assumir a gestão de ponta-a-ponta desses equipamentos, desde o monitoramento e atualização de sistemas, até a reposição do dinheiro que alimenta as máquinas. Pelo contrato, o banco também pode abrir mão de comprar o ATM. Basta alugar a máquina, que passa a ter um custo atrelado ao número de transações nela realizadas.

Atualmente, a Procomp opera 14 mil ATMs nesse modelo, dos quais 10,5 mil estão com a Caixa Econômica Federal (CEF). Os demais são contratados pelo Banco de Brasília e Nossa Caixa.

As razões que justificam essa tendência são claras. Hoje, se um banco quiser comprar um ATM, tem que desembolsar entre US$ 12 mil e US$ 15 mil por máquina. O custo mensal do equipamento, nas projeções da Procomp, é de R$ 5 mil. "Quando ele terceiriza, esse gasto cai entre 15% e 20%, e diminui mais conforme cresça o número de ATMs", diz Abud Júnior.

Mas a Procomp não está sozinha nesse barco. A centenária NCR, que faz dos ATMs uma de suas cinco áreas de negócios, também reforça o coro da terceirização. Nesse momento, diz o diretor geral da NCR Brasil, Elias Rogério Silva, a empresa negocia contratos com três bancos para assumir o controle total de seus ATMs. Com a fabricação local de equipamentos e sistemas desde 2003, a multinacional tem a meta de triplicar, em cinco anos, as suas operações no Brasil, que hoje somam 15 mil pontos de auto-atendimento. "Boa parte desses contratos serão fechados com a oferta de serviços terceirizados."

Na brasileira Itautec, a oferta de serviços e produtos de ATM agora é assunto prioritário, principalmente após os últimos 18 meses, período em que a companhia, após estudo realizado com a consultoria McKinsey, decidiu se desfazer de suas operações ligadas às áreas de PCs e placas de memórias, para se voltar, especificamente, para automação bancária e comercial. "Fechamos um primeiro contrato de terceirização total na Europa", comenta o vice-presidente comercial da companhia, Claudio Vita, sem citar detalhes da operação. No Brasil, afirma, a companhia que cobre os 22 mil ATMs do Itaú está negociando contratos com outros bancos. O próprio Itaú também está nos planos.

Embora, na ponta do lápis, a terceirização total de ATMs pareça caminho natural dos bancos, os fornecedores admitem que ainda enfrentam barreiras culturais pela frente. "Muita coisa já está terceirizada hoje, mas muitos bancos não querem permitem que alguém de fora tenha o controle de sua rede", reconhece o diretor comercial da Perto, Nori Lermen. "Há bancos que não abrem mão dos computadores que se conectam aos ATMs."

Com 18 mil equipamentos instalados pelo país, a Perto traz no menu os mesmos serviços de seus concorrentes, mas a sua atenção, nesse momento, está mais voltada para a atualização do parque nacional de ATMs. "Por ano, cerca de 5% da base costuma ser trocada, mas nesse ano a previsão é de que chegue a 12%", comenta Lermen.

Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a crescente entrega da gestão dos ATMs para terceiros é apenas mais uma indicação de um caminho inevitável: o compartilhamento das redes, tal como já acontece com o Banco do Brasil e CEF. "Assim como a terceirização, esse é o caminho mais racional", comenta o consultor da instituição, Luís Marques de Azevedo. "Não faz sentido manter a estrutura como está. Essa mudança é uma questão de tempo", conclui.