Título: BNDES abre linha de crédito para aéreas
Autor: Durão, Vera Saavedra e Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Empresas, p. B3

A Varig poderá ser a primeira empresa aérea brasileira beneficiada com a linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que financia a compra, pelas companhias nacionais de aviação, de aviões fabricados no país. A empresa entrega hoje ao banco carta-consulta para obtenção de crédito para a compra de 50 aeronaves da Embraer, informou ontem o presidente do conselho de administração da VarigLog, nova dona da empresa, Marco Antonio Audi. O valor total do negócio, segundo o executivo, será de US$ 2 bilhões. Uma parcela menor da encomenda, cerca de 15% do valor total, será aportada pela nova Varig.

Em reunião ontem com técnicos do banco e com o diretor da área de infra-estrutura, Wagner Bittencourt, os executivos da VarigLog e da Embraer apresentaram um plano de negócios, que prevê a compra ou aluguel de 80 aviões. O encontro serviu de base para o pedido de financiamento para a compra dos jatos da Embraer, conforme antecipou o Valor na edição de ontem. Audi ressaltou que também está negociando a compra das 50 aeronaves com a Airbus e com a Boeing. "Serão 50 aviões da Embraer, ou 50 Airbus ou 50 Boeing. Tudo dependerá dos prazos de entrega estipulados pelas fabricantes e das condições de financiamento", disse Audi.

A conclusão do negócio com a Embraer poderá levar a Varig a conquistar o posto de primeira empresa nacional a comprar aviões da nova família de jatos da fabricante brasileira: a E-Jets, com capacidade de 80 a 122 passageiros. Audi disse que também está negociando com outros fabricantes ou empresas de leasing a compra de mais 12 aeronaves de maior porte para as rotas internacionais, com capacidade de 250 lugares. Segundo o executivo, já no fim deste mês, a Varig estará operando com 18 aviões. A frota da Varig atualmente é formada por três MD-11 e seis Boeing 737-300.

Demian Fiocca, presidente do BNDES, explicou que, anteriormente, o banco só financiava exportação de aviões para clientes da Embraer no exterior. Agora decidiu financiar também a compra de aeronaves para companhias brasileiras e, para isso, teve que adequar as condições de financiamento a custos em reais e não em dólares, para conforto do tomador nacional. A nova modalidade prevê o financiamento de até 85% do valor do avião pelo banco. O custo é corrigido em 90% pela TJLP (7,5% ao ano) e 10% em dólar (risco cambial), mais spread básico de 1% e spread de risco entre 1,8% a 0,8%, dependendo do risco da compradora. O prazo de pagamento é de 15 anos.

Fiocca admitiu que várias aéreas nacionais já conversaram com o banco visando tomar este crédito, entre elas a Gol, a TAM e a própria Varig. "Já houve alguns contatos com a Varig em nível técnico, que começaram depois da compra, já com o novo controlador", disse. O presidente do BNDES esclareceu que "esta não é uma linha de crédito para a Varig. É uma linha para o setor aéreo. A Varig é uma das que poderão ser beneficiada com ela".

A Embraer informou ontem que "vê com satisfação a ação do BNDES voltada para a implantação de linhas de financiamento e instrumentos financeiros que favoreçam a aquisição por empresas brasileiras de aeronaves fabricadas no Brasil".

Se o banco aprovar a operação, o tomador do empréstimo será o novo controlador, ou seja, a nova Varig. Segundo fontes do próprio banco, a "velha" Varig não tem condições de satisfazer as garantias pedidas pelo BNDES, nem deve satisfazer os critérios de indicadores de risco do negócio.

A linha de crédito do BNDES, destinada fundamentalmente a financiar a compra de aviões nacionais de porte médio - já que a Embraer não fabrica aeronaves com mais de 122 lugares -, chegou a ser alvo do interesse da TAM. Mas, a empresa optou pela compra de equipamentos maiores, seguindo a estratégia de ampliar rotas internacionais.

A Varig contratou a ex-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) Maria Silvia Bastos Marques como consultora para ajudar no processo de estruturação da nova empresa. A executiva chegou a ser convidada pelos novos donos da aérea para presidir a empresa, mas recusou. Maria Silvia, que participou do encontro com técnicos do banco, disse que o contrato com a nova Varig é de três meses. Audi ressaltou, no entanto, que nada impede que seja renovado.

Em assembléia ontem, os credores elegeram o ex-vice-presidente operacional e técnico da Varig, Miguel Dau, como gestor judicial da antiga empresa. Dau trabalhou na Varig por 18 anos (1987 a 2005), exercendo diversos cargos, entre eles diretor de operações de vôo e comandante e instrutor de aeronaves. Os credores também escolheram a distribuidora Oliveira Trust como agente fiduciário. A empresa será responsável pela emissão de títulos de dívida (debêntures) para a redução dos débitos da Varig. (Colaborou Ana Paula Grabois, do Valor Online)