Título: Teck Cominco desiste de proposta pela Inco e Vale
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Empresas, p. B6

O mercado reforçou as apostas de que a Vale do Rio Doce vai concretizar a aquisição da canadense Inco, uma das maiores produtoras de níquel do mundo. Menos de 24 depois de fazer uma nova proposta, a também canadense Teck Cominco decidiu bater em retirada, alegando não ter conseguido costurar uma operação financeira para levantar cerca de US$ 5,1 bilhões que elevaria sua oferta.

A americana Phelps Dodge também concorre no páreo e tem um acordo de compra da Inco com a direção da empresa canadense. Esse é outro obstáculo que a Vale terá de vencer se quiser levar a mineradora.

Para o analista de mineração do Unibanco, Rodrigo Barros, "a Teck Cominco desistiu porque tinha desafios fortes a enfrentar, enquanto a Vale está sem dívida e pode colocar mais US$ 1 bilhão na mesa de negociações facilmente, se for preciso".

Já Teck Cominco dependia de uma oferta pública para levantar o caixa para a aquisição. A empresa teria que implementar uma emissão primária de ações equivalente a US$ 14 bilhões, em apenas duas semanas, para fazer valer sua nova oferta - já que propunha pagar o equivalente a 80% em dinheiro o valor de 89 dólares canadenses por ação, uma tarefa nada fácil. A Teck preferiu optar pela validação da sua antiga proposta, cujo prazo de apresentação aos acionistas da Inco terminou à meia noite de ontem (46% em dinheiro e o restante em ações, alcançando o equivalente a US$ 17,7 bilhões).

"Recebemos apoio de peso de um grande número de investidores institucionais, mas no fim não conseguimos estruturar nossa operação nos termos que considerávamos adequados para a Teck Cominco", afirmou o presidente da empresa, Donald Lindsay, em nota divulgada ontem.

A direção da Vale mais uma vez não quis se pronunciar sobre o novo cenário da negociação. Em Belo Horizonte, o presidente da Vale, Roger Agnelli limitou-se a dizer que é "um período no qual tem de se ter paciência, muita paciência." Ele reiterou o interesse da mineradora na compra da Inco, empresa que detém tecnologia de ponta. Segundo ele, o preço ofertado pela Vale foi justo. As especulações de mercado sobre um possível aumento, segundo ele, fazem parte do jogo. Ele negou que a possível compra represente um aumento exagerado do endividamento da companhia. "Se fosse, os bancos não estavam emprestando", declarou. "A Vale é um risco bom."

Entretanto, conforme apurou o Valor junto a acionistas da companhia, a Vale está apostando muito neste novo negócio. As recentes quedas do preço da ação da Vale não tiveram impacto nenhum na decisão da empresa. Segundo esses interlocutores, o mercado tem um comportamento engraçado. Na época em que tentou adquirir a Noranda, em 2004 as ações caíram quando cogitou-se da possibilidade de compra. Se a Vale tivesse comprado a Noranda teria feito um grande negócio, consideraram agora esses investidores.

O mercado, desta vez, porém, reagiu positivamente a decisão da Tech Cominco de retirar sua nova oferta. As ações da Vale voltaram a subir em Nova York (até às 17:00 horas do Brasil, os ADRs da Vale subiram 2,38% o correspondente às ações ordinárias e 1,57% a correspondente às preferenciais). Na Bovespa, as ações ordinárias encerraram o dia com alta de 2,65%, a R$ 47,94, enquanto o papel preferencial subiu 1,56% fechando em R$ 41,50.

"A Vale agora tem prioridade na disputa pela Inco", afirmou Cristiane Viana, analista do setor de mineração e siderurgia da corretora Ágora Sênior. "As preocupações dos investidores de que a Vale está oferecendo muito dinheiro pela mineradora já não são mais tão fortes".

Na bolsa de Toronto, os papéis da Inco encerraram o pregão num patamar de 86,55 dólares canadenses por ação, caindo 3,57%. O papel tinha chegado a até 89 dólares canadenses no dia anterior. A interpretação dos analistas é de que o mercado está prevendo que o preço da oferta da Inco não vai aumentar muito. O valor da ação da mineradora de níquel está agora mais próximo da oferta da Vale, de 86 dólares canadenses por ação.

Para analistas, a direção da Inco ainda apóia a oferta da americana Phelps Dodge, mas abriu conversa com a Vale, como foi noticiado. Nesse caso, a indicação é de que a mineradora brasileira tem espaço para negociar sua oferta não solicitada, porém amigável, de compra da Inco. "A Vale pode dar uma sinalizada de que realmente está interessada em investir nessa empreitada, subindo um pouquinho sua oferta, como fez na compra da Canico. Este é um procedimento comum nesse tipo de negociação".

No cálculo dos analistas, a cada dólar canadense a mais que a Vale possa oferecer equivale a cerca de US$ 200 milhões no valor da Inco.

No ano passado a Vale adquiriu a empresa canadense, que desenvolvia um projeto de níquel no Pará, e durante as negociações elevou sua oferta de 17,50 dólares canadenses por ação para 20,80 dólares canadenses para arrematar o negócio. (Colaborou Ivana Moreira, de Belo Horizonte)