Título: Piora cenário para carne de frango
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Agronegócios, p. B11
O cenário internacional adverso para o mercado de carnes de aves levou a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef) a rever novamente para baixo suas projeções para as vendas externas este ano. Com base no desempenho das indústrias até julho, a entidade prevê uma queda no volume exportado de 14,1% no ano, para 2,446 milhões de toneladas, e retração de 18,4% na receita, para US$ 2,862 bilhões.
Em julho, o cenário mais pessimista previa queda de 12,8% em volume e de 16,8% em receita. "O efeito da gripe aviária foi pior do que se esperava", afirmou Ricardo Gonçalves, presidente da Abef.
Os novos casos de gripe aviária na Europa e na Ásia provocaram recuo na demanda e aumento dos estoques mundiais. O efeito em sete meses foi uma queda de 21,9% no preço médio do quilo de frango vendido no exterior, para US$ 1,14. Gonçalves observou que historicamente os preços internacionais melhoram no segundo semestre, mas que neste ano será difícil repetir esse desempenho. A entidade projeta para o ano preço médio do quilo em US$ 1,17.
Entre janeiro e julho, os embarques recuaram 11,5% em volume, voltando aos níveis de 2004. Em receita, houve queda de 9,2%. As maiores quedas foram observadas nos embarques para Oriente Médio (27,81%), Europa (10,04%) e Ásia (2,74%, sendo que só o Japão reduziu as compras em 10%).
Ainda conforme Gonçalves, contribui para a piora do quadro o ressurgimento de casos de Newcastle - em Manaus (AM) e Vale Real (RS). Até agora, 15 países impuseram algum tipo de restrição à carne brasileira por conta da doença, entre eles Japão, Ucrânia e China. Segundo Gonçalves, a demora na implantação do plano de prevenção da gripe aviária e Newcastle piora o quadro. O setor privado ainda aguarda liberação de R$ 238 milhões pelo governo federal para implantar as medidas de fitossanidade.
Também preocupa o setor a decisão da Comissão Européia de criar cotas e tarifas extra-cota para frango salgado e carnes de peru e frango industrializadas. A imposição européia veio como resposta à decisão da Organização Mundial de Comércio (OMC), em junho, favorável ao Brasil no contencioso do frango salgado. O bloco quer impor cotas e tarifa de 1.300 euros para a tonelada de frango salgado e de 1.024 euros por tonelada para os demais itens cárnicos. Os países se reúnem novamente em setembro para fechar acordo sobre as cotas.
Para Gonçalves, a descoberta de dois cisnes com uma versão de baixa patogenicidade do vírus H5N1 no estado de Michigan, nos EUA, também merece atenção. "Ainda não dá para concluir o que vai acontecer, mas se a doença evoluir pode ser preocupante", afirmou. O avanço da doença pode prejudicar as exportações americanas de carne de frango - e indica que a gripe pode chegar à América do Sul.
Ontem o Serviço Veterinário Federal da Rússia, maior importador mundial de carne de frango, informou que pode interromper as importações vindas de Michigan. Segundo a Bloomberg, o país aguarda relatório oficial do governo americano para confirmar o embargo. O México proibiu a importação de todo tipo de ave vinda daquele Estado e a Coréia do Sul informou que vai suspender as importações do país. Em maio, os EUA, pela primeira vez, superaram o Brasil em exportação de carnes de frango. No primeiro semestre, o país vendeu ao exterior 1,24 milhão de toneladas, contra 1,195 milhão do Brasil.