Título: Crise dos grãos facilita expansão de canaviais no Mato Grosso do Sul
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Agronegócios, p. B11
A valorização da terra no sudoeste do Mato Grosso do Sul e o desestímulo à ampliação da área plantada de grãos, em função da conjuntura cambial e de mercado internacional, está acelerando a expansão da cana para o Estado.
Na macro-região de Dourados (MS), o número de usinas deve pular de seis para 20 até 2009, segundo avalia o superintendente local do Banco do Brasil, Flavio Mazzaro. Entre os projetos novos, a escala de investimento é grande: as lavouras têm em média 30 mil hectares.
Com previsão para entrada em funcionamento em 2008 está a futura usina de Dourados, que deverá ser a maior do Mato Grosso do Sul quando em operação, com capacidade de produção de 100 milhões de litros de álcool por safra. O empreendimento, iniciativa em sociedade do grupo local Dal Lago e da Unialco, de Guararapes (SP) envolve recursos de R$ 162 milhões, de acordo com o governo do Estado.
"Nesta região, cerca de 70% das áreas que estão recebendo plantio de mudas de cana são antigas pastagens e o restante oriundo da cultura de grãos. O sudoeste do Mato Grosso do Sul deve passar por uma transformação nos próximos anos, com a tendência forte de redução da área de pecuária extensiva, principalmente em função do alto preço das terras", comentou Mazzaro.
A produção de cana ainda é incipiente na região e no Mato Grosso do Sul como um todo. Em 2004, a área plantada no Estado era de somente 130,9 mil hectares, cerca de 2,5% da área nacional, com o corte de 9,572 milhões de toneladas, segundo dados do IBGE. Está, contudo, em expansão há alguns anos.
Na safra 2000/01, por exemplo, foram colhidos 6,5 milhões de toneladas. Em 1990, 3,9 milhões. O Estado é a terceira maior área de expansão da cultura, de acordo com o presidente da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, atrás do oeste paulista e do triângulo mineiro e à frente do Mato Grosso.
Carvalho avaliou que, das 90 usinas em projeto no país, metade está em São Paulo, principalmente no entorno de Araçatuba, antiga região de pecuária do Estado. "O investidor em geral é o próprio usineiro sem novas áreas de expansão em São Paulo ou no Nordeste. A entrada de pessoas inteiramente estranhas ao setor é rara. A área substituída na maioria esmagadora das vezes é a pastagem", disse.
O crescimento da cana na região de Dourados é impulsionado por dois fatores: as restrições à cultura em outras regiões do Estado, como a do Alto Paraguai, entre a capital do Estado e a região do Pantanal, onde o plantio permanece proibido, e a proximidade das regiões produtoras de São Paulo. Estas razões já tornam a área a mais importante na produção sucroalcooleira do Mato Grosso do Sul. Além das seis usinas já existentes na região, existem apenas outras três unidades no Estado inteiro.