Título: Desafio de Serra é aplacar divergências em sua base de apoio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2012, Política, p. A10

O primeiro desafio a ser enfrentado pelo pré-candidato do PSDB, José Serra, na eleição pela Prefeitura de São Paulo será o de apaziguar as divergências dentro de sua base de apoio. Há conflitos entre o DEM e o PSD do prefeito Gilberto Kassab, entre vereadores do PSD e PSDB e dentro do próprio partido de Serra.

Um dos principais entraves é a aliança com o DEM, partido com direito a cerca de dois minutos e meio no horário de televisão. Dirigentes da legenda resistem à coligação com o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

O presidente do diretório municipal do DEM, Alexandre de Moraes, e o dirigente nacional Rodrigo Garcia, ex-presidente do diretório, tiveram desentendimentos com Kassab e romperam politicamente com o prefeito. O grupo anti-kassabista dos dois diretórios alega que o prefeito, ao deixar o DEM e fundar o PSD, desidratou o partido em São Paulo, fez com a legenda perdesse a prefeitura paulistana e deverá fazer com que a sigla perca tempo de televisão no horário eleitoral e recursos do fundo partidário.

Durante o mandato de Kassab, o presidente do diretório municipal do DEM foi o homem forte da gestão e esteve à frente dos contratos milionários de transporte e de coleta de lixo. Supersecretário, Alexandre de Moraes acumulou o comando de Transportes e Serviços, mas saiu em junho de 2010, demitido, brigado com Kassab. Depois de deixar o governo, o prefeito determinou que os contratos administrados pelo ex-secretário, como a varrição de ruas, fossem reavaliados.

Na fase de criação do PSD, lançado no ano passado, Kassab acusou Moraes de articular contestações judiciais para tentar impedir que a nova legenda obtivesse registro a tempo de participar das eleições de 2012.

Na presidência do diretório municipal, Moraes é o responsável direto por articular a aliança na capital paulista e tem mantido boas conversas com o PMDB, presidido na capital pelo pré-candidato Gabriel Chalita.

O DEM exige a vice de Serra e ameaça apoiar Chalita caso se não conseguir a vaga na chapa de Serra. Dirigentes argumentam que o partido tem tempo de televisão e que, por isso, teria vantagem em relação ao PSD, que ainda tenta obter tempo de TV e recursos do fundo partidário junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Integrantes do DEM dizem também que se Kassab indicar o vice, o partido tende a ficar isolado na campanha de Serra.

A resistência a uma composição com o PSD na capital paulista é reforçada por dirigentes próximos a Rodrigo Garcia, vice-presidente nacional do DEM, secretário-geral do diretório paulista e secretário estadual no governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Garcia e Kassab se conhecem há cerca de duas décadas e foi sócio de Kassab em empresas. Os dois fizeram dobradinha eleitoral e ficaram conhecidos pelo jingle "Quem sabe, sabe, volta comigo. Federal é Kassab, estadual é Rodrigo". No governo municipal, o prefeito criou a Secretaria de Desburocratização para nomear Garcia. O dirigente do DEM deixou o cargo em 2010 e, durante o processo de criação do PSD, sua relação com o prefeito se desgastou ainda mais. Em fevereiro, antes de Serra anunciar que disputaria a prefeitura, o DEM lançou a pré-candidatura de Garcia.

O comando nacional do DEM tenta mediar o conflito entre dirigentes e o prefeito. O presidente nacional do partido, senador Agripino Maia (RN), reuniu-se na semana passada com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para discutir a viabilidade de um acordo na capital paulista. A direção nacional argumenta que a aliança com o PSDB é antiga e deve ser mantida na capital, mas que passa pela indicação do vice na chapa tucana.

A resistência à composição com o PSD não vem só do DEM. Vereadores do PSDB também têm restrições.

Os parlamentares não querem uma coligação proporcional com o partido de Kassab. Os tucanos acham que se o acordo valer para a disputa para a Câmara Municipal poderão perder votos e não conseguir a reeleição. A bancada de sete vereadores, dizem, pode diminuir de tamanho.

O PSD tem 10 parlamentares, que compõem a segunda maior bancada da Câmara Municipal, só atrás do PT. Por ter mais candidatos à reeleição, o partido de Kassab sairia na frente do PSDB. No entanto, para o PSD a coligação proporcional é fundamental para usar o tempo de televisão dos tucanos na divulgação dos candidatos a vereador.

Na Câmara Municipal, há divergência entre PSD e PSDB também em relação a um dos principais projetos de lei enviados por Kassab ao Legislativo neste ano. O PSDB rejeita a proposta de concessão, por 99 anos, de terrenos na região da Cracolândia para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva construir o Memorial da Democracia. Nesta semana, a bancada tucana reforçou a campanha contrária ao projeto e tenta impedir sua votação. O PSD, no entanto, quer aprovar a proposta até o início de maio.

Além das divergências com os aliados, Serra tenta mediar conflitos dentro do PSDB. O pré-candidato impediu a retaliação a seis vereadores que deixaram a legenda em 2011 e migraram para partidos que Serra tenta agregar em sua chapa, como PSD, PSB e PV. A direção estadual do PSDB queria reaver o mandato dos parlamentares, mas o processo foi extinto em reunião da executiva municipal na noite de quarta-feira. Os vereadores saíram do partido por conta de brigas políticas que remontam à campanha municipal de 2008 e que se intensificaram em 2010, com a escolha da direção municipal.

Serra ainda enfrenta problemas do processo de prévias partidárias, no qual entrou depois do fim do período de inscrição. Os dois pré-candidatos que enfrentaram o tucano na disputa interna do partido, secretário estadual José Aníbal e deputado federal Ricardo Tripoli, reclamam que ainda não foram incorporados à campanha do tucano.