Título: Cerrado mineiro já é referência mundial
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Agronegócios, p. B12

Um movimento migratório iniciado na metade dos anos 70 e fortalecido no início da década seguinte criou uma das mais produtivas e modernas regiões de café do país: o cerrado mineiro.

Desiludidos por conta de uma das maiores geadas do século passado, a de 1975 - que dizimou a maioria dos pés de café do Paraná -, os cafeicultores do Estado do Sul, aliados a paulistas também prejudicados pelo clima, instalaram-se no entorno do cerrado de Minas Gerais e jogaram suas fichas no café.

Com o clima favorável ao plantio do grão, topografia adequada e altitude média em torno de 950 metros, a região mostrou-se benéfica à expansão da cultura. E o avanço da cafeicultura em Minas, após a onda migratória, içou o Estado ao posto de maior produtor do grão do país, deixando o Paraná à margem da produção.

Apesar da pouca tradição cafeeira, o cerrado mineiro transformou-se em um centro de referência global. Desde 2004, a região foi classificada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) como a única do mundo a ter identificação geográfica para a produção.

Desde o início dos anos 90, a região trabalha com certificações para identificar o café produzido no cerrado. Os critérios para garantir essa certificação são rigorosos para atender às exigências do mercado internacional. Atualmente, das 3,5 mil fazendas da região, 38 já estão certificadas, o que representa aproximadamente 200 mil sacas de café, de um total de 3,5 milhões de sacas produzidas. Outras 120 fazendas estão em processo para garantir a certificação, de acordo com dados de José Augusto Rizental, superintendente do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (Caccer).

São quatro etapas até a obtenção da certificação final. "Começamos com noções básicas, explicando ao cafeicultor a diferença entre uma administração profissional e a amadora [em boa parte praticada por eles]", diz Rizental.

A partir de 2007, a região também passará a contar com um Centro de Excelência do Cerrado, um espaço dedicado a cursos, treinamento e educação na área de cafeicultura. A estrutura foi criada em Patrocínio, com investimentos de R$ 2 milhões bancados pela Funcaccer e pela prefeitura municipal de Patrocínio.

Composto por 55 municípios, o chamado cerrado mineiro é atualmente um retrato da cafeicultura eficiente do país. Esses municípios tendem a resistir ao avanço de outras culturas na região. Com a crise de preços do início desta década, a soja tornou-se uma alternativa. Mas as boas perspectivas para os preços do café, aliadas à crise da soja, está levando os cafeicultores a reduzir a aposta alternativa, conforme observa Aguinaldo José de Lima, vice-presidente do Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (Caccer).

Em Araguari, segunda maior cidade produtora de café do cerrado, a fruticultura também é forte. Segundo Ramon Olini Rocha, presidente da Associação dos Cafeicultores de Araguari (Aca), a cidade é a maior produtora de tomate de mesa do país e uma das maiores produtoras de maracujá. A cidade tem três indústrias de suco instaladas.

Mas é o avanço da cana, sobretudo no Triângulo Mineiro, que preocupa os cafeicultores da região. Mais avessos à mudanças, os cafeicultores preferem assistir de longe, pelo menos por enquanto, a ofensiva da cana sobre as áreas de pastagens mineiras. Elmiro Resende Cunha, cafeicultor de Monte Carmelo, diz que não quer investir em cana. "Hoje a atividade tornou-se praticamente uma monocultura em São Paulo". (MS)