Título: Tesouro paga taxas menores com cenário favorável
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Finanças, p. C2

Tesouro e Banco Central verificaram que, em julho, o movimento de recuperação do mercado foi ampliado de forma consistente. Na avaliação dos administradores da dívida, as incertezas que perduraram no cenário internacional, principalmente sobre a elevação dos juros nos Estados Unidos e o aumento da cotação do petróleo, foram compensadas pelas condições internas de queda no risco-Brasil, melhora das contas externas e perspectiva otimista sobre a inflação. Esse ambiente permitiu que o Tesouro pagasse taxas menores no mês passado.

O coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Manuel Augusto Silva, reconheceu que as incertezas sobre a economia americana continuam, mas o momento é positivo. Ele evitou afirmar que essas boas condições vão persistir.

Julho, como todos os meses que iniciam os trimestres, concentrou grandes vencimentos de prefixados. O mês passado teve resgate líquido de R$ 13,85 bilhões, com emissões de R$ 42,5 bilhões. O pagamento de juros foi de R$ 11,68 bilhões. No mês passado, os vencimentos de LTN representaram 72% do total (R$ 40,5 bilhões) e os de LFT (R$ 12,9 bilhões) foram 23%. Quanto às emissões, 61% foram de títulos prefixados (R$ 25,9 bilhões), 36% de papéis ligados à Selic (R$ 15,2 bilhões) e 3% de índice de preços (R$ 1,4 bilhão).

Nos dois meses que restam ao terceiro trimestre (agosto e setembro), a tendência é a de emissões líquidas. Para agosto, a previsão do Tesouro é de vencimentos de R$ 18,1 bilhões e emissões de até R$ 45 bilhões.

A melhora expressiva do mercado também refletiu-se no segmento das NTN-B. O Tesouro realizou um leilão em julho e vendeu todo o volume ofertado, obtendo R$ 1,4 bilhão. Em maio, a alta volatilidade obrigou o Tesouro a fazer três leilões simultâneos de compra e venda de NTN-B para dar parâmetro ao mercado. Em junho, foram colocados apenas R$ 376 milhões desse título. Em agosto, já foi realizado um leilão de NTN-B e o Tesouro colocou cerca de R$ 1 bilhão. Um segundo leilão será realizado nos dias 22 e 23 deste mês.

"Já observamos a volta dos estrangeiros para esses investimentos, o que também é confirmado pela evolução dos negócios no mercado secundário", comentou Silva. A participação dos estrangeiros na dívida interna, segundo o que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou ao Tesouro, foi de aproximadamente R$ 23 bilhões em junho, o que representa 2,3% do estoque. Em maio, tinha sido de R$ 22 bilhões.

O estoque da dívida pública mobiliária federal interna (DPMFi), em julho, foi de R$ 1,013 trilhão, pequena redução (0,21%) sobre junho. Desconsiderando as operações de swap cambial, a composição da dívida em julho teve queda dos prefixados (31,45% para 30,36%), aumento da parte ligada à Selic (42,52% para 43,18%), crescimento de títulos ligados a índice de preços (21,73% para 21,91%) e elevação dos remunerados pelo câmbio (2,29% para 2,32%).

Com as operações de swap, os papéis ligados à Selic aumentaram sua participação de 46,25% (junho) para 46,95% e os títulos vinculados ao câmbio ficaram estáveis em 1,44% do total, mantendo posição ativa em R$ 14,63 bilhões. O chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) do BC, Ivan de Oliveira Lima, informou que, neste ano, houve resgate líquido de US$ 11,4 bilhões nas operações de contratos cambiais. A parcela dos títulos que vencem em até 12 meses ficou estável em 41,2% do total. Mas a expectativa de Silva é cumprir a meta do Plano Anual de Financiamento (PAF) que tem intervalo entre 31% e 36% para dívida de prazo mais curto.

O prazo médio das emissões caiu de 30,2 meses (junho) para 28,5 meses em julho . O prazo médio do estoque subiu de 29,2 para 30 meses. Oliveira Lima afirmou que, em julho, os fundos de previdência reverteram a tendência de evitar o mercado secundário de títulos, o que confirmou o melhor humor dos investidores. O volume financeiro médio das operações definitivas com títulos públicos elevou-se em 31,8%. O total negociado foi de R$ 15,01 bilhões. (AG)