Título: Energia fica mais cara sem usinas do Madeira
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Brasil, p. A3

O custo de geração de energia no Brasil no período de 2011 a 2014 aumentará em cerca de R$ 6 bilhões, caso as hidrelétricas Jirau e Santo Antônio, que formam o complexo do Rio Madeira, no Estado de Rondônia, não começaram a operar no prazo previsto. Esse valor não inclui os investimentos necessários para a construção de outras fontes de energia que possam substituir as duas hidrelétricas.

Essa é uma das conclusões de um estudo feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) com base no Plano Decenal de Energia 2005-2015. A EPE também constatou que para substituir essas gigantescas hidrelétricas o país teria de construir térmicas capazes de gerar 10.300 megawatts (MW), que utilizariam outras fontes de energia, como o carvão, gás natural liquefeito (GNL), óleo combustível, diesel e biomassa, entre outros.

"Existe muito questionamento quanto às hidrelétricas do rio Madeira. Se as duas usinas não entrarem em operação, é claro que não vai faltar energia, já que existem outras fontes. Mas isso tem conseqüências, como o aumento do custo da operação - já que a maioria das substitutas são térmicas - e da poluição", disse o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim.

O custo adicional de R$ 6 bilhões das usinas substitutas, segundo a EPE, terá de ser repassado à tarifa de energia elétrica paga pelo consumidor. E não inclui investimentos, calculados em R$ 15,8 bilhões por Tolmasquim, para atender ao aumento do consumo de energia do país.

Ele explicou que o estudo da EPE é "otimista", porque ao substituir as usinas do Madeira por outras usinas ele pressupõe a obtenção de licença ambiental para as hidrelétricas de Garibaldi, no Rio Grande do Sul, de 1.320 MW, e Marabá, no Estado do Pará, de 150 MW. Elas custariam aproximadamente R$ 4,8 bilhões e ainda não estão licenciadas. Adicionalmente, seriam necessários outros R$ 11 bilhões para construir os 8.000 MW térmicos restantes.

Outro efeito adverso provocado pelo atraso das obras das usinas do rio Madeira seria o aumento de 15% das emissões de gases poluentes na atmosfera. Para substituir a energia delas, as térmicas despejariam 15 milhões de toneladas de dióxido de carbono a mais na atmosfera, aumentando as emissões de 40 milhões para 65 milhões de toneladas/ano.

As usinas do lado brasileiro do rio Madeira - o projeto também contempla a construção de duas hidrelétricas na Bolívia - estão orçadas em R$ 20 bilhões. Juntas, Santo Antônio e Jirau vão gerar 6.500 megawatts. Já Belo Monte, de 5.500 MW, não foi incluída no estudo, porque está prevista para entrar em 2014, tendo pouco efeito sobre o Plano Decenal.

"Queremos mostrar que, do ponto de vista ambiental, é preciso analisar não só o empreendimento isolado, mas também as alternativas que existem. O custo de reduzir o impacto local é o aumento das emissões e do custo de operação, o que vai custar caro para o consumidor", disse Tolmasquim, que participou ontem da solenidade de abertura do 11º Congresso Brasileiro de Energia, da UFRJ.

Dona das maiores térmicas do Brasil e única supridora de gás do país, a Petrobras está reivindicando mudanças na periodicidade dos reajustes do preço dos combustíveis para térmicas e a vinculação dos reajustes ao mercado internacional.

"Do jeito que está, se o investidor prever um custo baixo e o combustível subir, ele quebra. Se prever um reajuste elevado e o combustível cair, o consumidor vai reclamar. A tendência do proponente é se proteger contra o risco, mas aí o preço é elevado", ponderou o diretor de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer.