Título: Espanha tenta conter expectativa ruim
Autor: House ,Jonathan
Fonte: Valor Econômico, 30/04/2012, Internacional, p. A9

A Espanha tomou tomou medidas para sustentar a confiança na debilitada economia local após a divulgação de dados que mostraram que a taxa de desemprego está no patamar mais alto dos últimos 18 anos, no vácuo do rebaixamento em dois graus da nota de dívida do país pela agência de classificação de risco Standard & Poor"s.

O desemprego no país subiu para 24,4% no primeiro trimestre, após ficar em 22,9% no quarto trimestre do ano passado, atingindo o nível mais alto já registrado. Mais de metade dos trabalhadores com menos de 25 anos estão sem emprego. A última vez que o desemprego na Espanha bateu nesse patamar foi em 1994, quando chegou a 24,6% no primeiro trimestre.

"A situação está terrível para todos e terrível para o governo", disse o ministro das Relações Exteriores, José Manuel Garcia-Margallo, em entrevista de rádio. "A Espanha tem estado, e está, em uma crise de enormes proporções."

O mercado de trabalho espanhol foi fortemente atingido pelo colapso de setor imobiliário, após uma década de forte crescimento, e pelos cortes no orçamento que tiraram dezenas de bilhões de euros da economia. Além disso, rígidas leis trabalhistas tornam mais fácil demitir funcionários do que reduzir seus salários ou rever suas funções. A taxa de desemprego espanhola é mais que o dobro da média da zona do euro, de 10,7%, e afeta cerca de 5,6 milhões de pessoas.

Como reação à piora do cenário econômico e financeiro da Espanha, a S&P rebaixou na noite de quinta-feira a dívida do governo espanhol de A para BBB+. A S&P citou a piora além do esperado da trajetória do orçamento do país desde o ano passado e o aumento do risco de o governo ter de socorrer o setor bancário, atingido por perdas do setor imobiliário.

O governo do premiê Mariano Rajoy tem lutado, desde que assumiu, em dezembro, para sanear a quarta maior economia da zona do euro, por meio de cortes draconianos no orçamento, reforma do mercado de trabalho e uma limpeza nos bancos em dificuldades.

Apesar da expectativa de que as medidas estimulem a economia no longo prazo, muitos analistas creem que elas causam prejuízos no curto prazo, prejudicando a produção, piorando a confiança dos investidores e elevando o risco de o governo tenha de recorrer a um resgate internacional.

O rebaixamento da S&P e as más notícias do desemprego inflaram o temor dos investidores com a Espanha, desencadeando a liquidação de débitos do governo. O rendimento do título de dez anos do governo espanhol fechou a 5,87%, 0,07 ponto acima de quinta-feira, segundo dados da Tradeweb. Os swaps de crédito de cinco anos estavam 11 pontos-base maiores, a 480 pontos base, segundo o serviço financeiro Markit. Apesar de investidores também terem inicialmente vendido ações espanholas, a bolsa conseguiu fechar em alta.

O vice-ministro das Finanças espanhol, Fernando Jiménez Latorre, disse que a ação da S&P "focou apenas nos efeitos imediatos" das reformas, que não serão positivos. "A S&P não está levando em conta o total impacto das reformas que estamos fazendo", acrescentou.

Na Alemanha, o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, deu apoio à Espanha, criticando a mudança na nota da S&P. Disse que ela prejudica os esforços do governo espanhol para ajustar suas finanças. "A decisão torna ainda mais crítica uma situação que já é crítica", disse Schäuble à rádio WDR.

Em entrevista, o ministro das Finanças espanhol, Luis de Guindos, citou o forte crescimento das exportações do país e a redução do historicamente alto déficit em conta corrente como evidências de melhora na competitividade da Espanha. "Isso mostra que a economia espanhola é competitva, ao contrário de algumas outras economias europeias", disse. "Esse é o mais importante elemento de otimismo para o futuro."

Analistas dizem que empresas espanholas estão começando a se tornar mais competitivas à medida que reduzem seus níveis de pessoal e obtêm mais sucesso nos acordos salariais com sindicatos.

Guindos falou após reunião na qual o governo assinou o relatório econômico anual que deve ser submetido à União Europeia. O chamado Programa de Estabilidade prevê que o PIB da Espanha vai crescer 0,2% em 2013 e 1,4% em 2014, após recuar 1,7% em 2012, e que o desemprego cairá para 24,2% em 2013. O crescimento será puxado principalmente pela exportação, com a demanda doméstica ainda sob pressão, já que empresas e famílias tentam administrar a enorme dívida acumulada na década de boom imobiliário.

O relatório estima que a dívida pública atingirá o pico de 82,3% do PIB em 2013, caindo a 81,5% em 2014. Guindos disse que o governo quer ainda elevar impostos indiretos em 2013, o que gerará uma arrecadação adicional de € 8 bilhões.