Título: Relatório da CPI citará 28 ex-parlamentares
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Política, p. A8

Os governistas não são maioria apenas na lista de deputados e senadores acusados de envolvimento com a máfia das Sanguessugas. A base aliada também está à frente na relação de ex-parlamentares supostamente ligados ao esquema de fraude de venda de ambulâncias. A CPI das Sanguessugas divulgou ontem os nomes dos 28 políticos suspeitos que já tiveram mandato no Congresso Nacional. A relação deverá fazer parte do relatório final da comissão de inquérito.

O PTB é o líder, com sete ex-deputados na relação. Em seguida vem o PMDB, com quatro ex-deputados e um ex-senador. O PP é o terceiro partido com quatro ex-parlamentares, seguido pelo PSDB (três). A relação indica os partidos aos quais os políticos eram filiados quando cumpriram seus mandatos e, segundo a CPI, teriam se relacionado irregularmente com a máfia das Sanguessugas.

Na lista do PTB, consta o nome de José Carlos Martinez, ex-presidente do partido morto em acidente aéreo em 2003. Em 2005, outro presidente petebista, Roberto Jefferson (RJ), teve o mandato de deputado cassado por envolvimento com o mensalão.

André Luiz, hoje sem partido, cumpriu o mandato pelo PMDB. Foi cassado em maio de 2005, acusado de prática de extorsão contra o empresário Carlos Cachoeira. Teria pedido R$ 4 milhões para tirar o nome dele da lista de investigados da CPI da Loterj, da Assembléia do Rio. Ronivon Santiago, que foi deputado pelo PP, também perdeu o mandato. O Tribunal Regional Eleitoral do Acre puniu-o por compra de votos nas eleições de 2002.

Apenas quatro dos 28 ex-parlamentares são candidatos, segundo o banco de dados do Tribunal Superior Eleitoral. O ex-senador Carlos Bezerra (PMDB-MT) tenta uma vaga na Câmara dos Deputados, mesmo objetivo de Luís Eduardo (PP-RJ), Fonseca Júnior (PSDB-ES) e Gessivaldo Isaías (PTB-PI). "Os nomes de todos estarão no relatório final. Alguns desses estão envolvidos até o pescoço", disse o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ).

O petista esteve ontem com o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, a quem entregou o relatório parcial da CPI das Sanguessugas. No documento, a comissão pediu a cassação de 72 parlamentares suspeitos de envolvimento com a máfia das ambulâncias. O próprio procurador-geral já havia pedido abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) contra 57 congressistas. "Ele me disse que, com base no relatório e em outras investigações em curso, poderá pedir a abertura de inquérito contra mais parlamentares", afirmou Biscaia. Os pedidos de Antonio Fernando deverão ser feitos até a próxima semana. O procurador se comprometeu a enviar informações à CPI sobre a participação das prefeituras no esquema.

Ontem, o senador João Alberto (PMDB-MA), presidente do Conselho de Ética do Senado, revelou que já notificou os colegas Serys Slhessarenko (PT-MT), Magno Malta (PL-ES) e Ney Suassuna (PMDB-PB). Vai esperar por cinco dias para receber a defesa dos senadores, incluídos na lista dos 72 suspeitos da CPI. Depois deverá iniciar os procedimentos para avaliar se deve ou não pedir a cassação do mandato do trio. Alberto pretende fazer uma acareação entre o empresário Luiz Antonio Vedoin, dono da Planam, e os colegas. Depois, pretende analisar o restante das provas obtidas pela CPI contra os senadores. "Não posso considerar como prova apenas o depoimento do Vedoin", afirmou.

Enquanto a CPI faz suas investigações e os Conselhos de Ética se preparam para iniciar os processos contra os acusados, cresce a pressão dentro do Congresso Nacional para que as votações de perda de mandato sejam abertas. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), concorda. Disse ontem que é uma de suas prioridades, mas jogou a responsabilidade para os líderes. "Depende da disposição das lideranças partidárias".