Título: Candidatos nos Estados omitem Alckmin
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Política, p. A9

A estréia do horário eleitoral gratuito para os governos estaduais foi marcada por estratégias adversas. Enquanto os candidatos ao governo dos Estados da coligação petista - quase todos em situação desvantajosa nas pesquisas - buscaram colar suas campanhas na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os candidatos da coligação tucana - quase todos em vantagem - focaram sua propaganda nas biografias pessoais, com poucas menções ao candidato tucano Geraldo Alckmin.

Em São Paulo, por exemplo, o favoritismo do candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, José Serra, fez com que sua estréia ontem no horário eleitoral gratuito sequer mencionasse o nome de Alckmin, que governou o Estado de janeiro de 2001 a março deste ano. A menção aos 12 anos de governo tucano foi feita apenas superficialmente: "São Paulo avançou muito nos últimos anos. (...) Agora é hora de seguir em frente", disse Serra.

No Estado, a diferença entre Alckmin e o presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem diminuído a cada pesquisa. Na última, ficou em três pontos percentuais: 39% a 36% para o tucano. Serra, porém, bate seu principal adversário, o senador Aloizio Mercadante, por 45% a 14%. No programa, foi resgatada a biografia do tucano e todas as realizações nos cargos públicos por que passou. Também foram apresentadas o que o próprio candidato chamou de "as quatro prioridades fundamentais do programa de governo": saúde, segurança, educação e emprego.

Mercadante fez o contrário: colou em Lula. Primeiro, focando na imagem do presidente: "Mercadante é fundador do PT, amigo e companheiro de Lula há 30 anos". Depois, em realizações do governo federal: "Líder do governo Lula, foi decisivo na elaboração e aprovação de projetos importantes, como o Bolsa-Família, o Prouni e o novo salário mínimo". E, ao final, com a entrada da voz de Lula falando do senador como "companheiro de todas as horas", enquanto diversas fotos dos dois petistas eram apresentadas.

Ao falar, Mercadante disse querer conversar com as mães paulistas e disse que seu governo terá por bases a segurança e a educação. Em seguida, atacou a era tucana no Estado: "No meio disso tudo, o caos da segurança, os atentados do PCC, fruto da falta de autoridade, da incompetência e da omissão de 12 anos do governo do PSDB."

Em seu primeiro programa no horário eleitoral gratuito, o governador Aécio Neves (PSDB), candidato à reeleição com mais de 70% das intenções de voto, não cumpriu a promessa de dar espaço a Alckmin: não houve menção à disputa presidencial. Diferente do petista Nilmário Miranda, segundo colocado nas pesquisas de intenções de voto com cerca de 7% que prometeu fazer em Minas "o que o Lula fez no governo federal".

No Rio Grande do Sul, o ex-ministro das Cidades Olívio Dutra (PT) apresentou imagens em que aparece ao lado do presidente Lula. Diferentemente de Yeda Crusius, do PSDB, que seguiu a lógica oposicionista e dispensou imagens de Alckmin, preferindo destacar sua experiência de 12 anos como deputada federal e a condição de economista como credenciais para enfrentar a crise financeira gaúcha. O governador Germano Rigotto (PMDB), neutro em relação à disputa nacional, lembrou a situação "muito difícil" em que recebeu o Estado e afirmou ter governado com "diálogo, austeridade e competência".

Na estratégia de herdar a popularidade de Lula na Bahia, o ex-ministro das Relações Institucionais Jaques Wagner pontuou seu programa de estréia na TV com referências ao presidente. Atrizes, filhos, esposa, o jingle da campanha e até o próprio Wagner exaltaram a relação "de amigo, de irmão" que o candidato tem com Lula.

Na TV, foram feitas menções a programas do governo federal como o Luz para Todos e o Bolsa Família. Entre uma e outra inserção da música tema da campanha que diz "chega de ver a velha panelinha governar", Wagner disse que o governo do PFL, que comanda a Bahia há 16 anos, é responsável por índices como o de "sexta pior saúde, sexta pior educação do país e o Estado que tem mais pobres".

No primeiro programa do PFL, Paulo Souto, não fez referência a adversários nem a Alckmin. Depoimentos de amigos de fora do meio político lembraram de seu passado como radialista e estudante de geologia. O senador Antonio Carlos Magalhães, seu grande cabo eleitoral, falou do início de Souto na política.

Com baixa popularidade em Pernambuco, Alckmin não foi citado uma só vez pelos seus aliados na propaganda eleitoral de ontem. Seu aliado no Estado, o governador Mendonça Filho (PFL), vinculou-se à popularidade do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato ao Senado. Lula, por outro lado, teve exposição máxima. Seus dois candidatos - os ex-ministros Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB) abusaram da imagem do presidente.

O candidato do PT ao governo de Santa Catarina, José Fritsch, colou sua imagem não só a de Lula, mas a de petistas com imagem nacional, como a senadora catarinense Ideli Salvatti, que apareceu com um depoimento no programa. Também foi reproduzido um vídeo com Lula dando apoio a Fritsch, durante uma passagem por Santa Catarina.

Em dois Estados brasileiros petistas e tucanos se portaram de maneira diferente dos demais.

No Paraná, Flávio Arns (PT) não citou Lula em seu programa. O governador e candidato à reeleição, Roberto Requião (PMDB), que ainda não declarou quem apóia no pleito nacional, falou pouco e deu ênfase a seus projetos sociais. Em busca de simpatizantes de diversos segmentos, Osmar Dias, do PDT, falou de sua experiência como senador e como ex-secretário da agricultura.

Já no Distrito Federal, onde Alckmin tem dois palanques, a governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que disputa a reeleição, foi a única a declarar apoio a seu candidato à Presidência: "Tenho um presidente só e definido: Geraldo Alckmin". No programa do outro candidato da coligação do tucano, o deputado José Roberto Arruda (PFL) não mencionou Alckmin. A petista Arlete Sampaio seguiu a mesma linha e ignorou Lula. Falou de sua infância, dos pais, da expulsão da UNB, da vida de médica em Brasília. Contou que ajudou a fundar o PT e relatou sua experiência como vice-governadora (sem citar Cristovam) e como deputada distrital.(Colaboraram Sérgio Bueno, de Porto Alegre, Ivana Moreira, de Belo Horizonte, Patrick Cruz, de Salvador, Vanessa Jungerfeld, de Florianópolis, e Raquel Ulhôa, de Brasília)