Título: Serra responsabiliza migrantes pelo pelo mau desempenho de SP no ensino
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Política, p. A9

O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, polemizou o debate eleitoral ao associar o mau desempenho do Estado em testes de qualidade de ensino às altas taxas de migração. De acordo com os resultados do último exame Prova Brasil, realizado pelo Ministério da Educação em 2005 e que avalia os conhecimentos de Português e Matemática dos alunos de quarta série, a cidade de São Paulo está entre as sete piores do país, na comparação com outras capitais.

"Tem que entender o seguinte: diferentemente dos Estados do Sul, que são os que estão em melhor situação, São Paulo tem muita migração, muita gente que continua chegando e tal. Este é um problema", afirmou ontem, em entrevista ao telejornal "SPTV".

A declaração de Serra tornou-se munição para seu principal oponente na disputa estadual, o candidato do PT, senador Aloizio Mercadante. O petista classificou a postura do tucano como "conservadora e odiosa". "Nessa declaração mais uma vez se expressa o preconceito, inaceitável. É um posicionamento conservador, odioso, contra quem ajudou a construir o Estado. Mercadante lembrou que 58% dos migrantes vieram do Nordeste. "Os nordestinos em São Paulo são solução, não problema", disse, depois de participar de um almoço com empresários, na sede da Fiesp.

De acordo com números do IBGE, entre 1999 e 2004, o número de pessoas que saíram do Estado foi maior do que as que entraram. Em relação à migração nordestina, em 2004, por exemplo, cerca de 457 mil pessoas saíram de São Paulo para o Nordeste, e o Estado recebeu 400 mil nordestinos.

Ex-prefeito de São Paulo, Serra também tropeçou ao falar sobre sua saída do cargo, ao justificar como fruto de uma nova conjuntura. "O que houve foi uma mudança das circunstâncias. Eu percebi na prefeitura, quando nós pusemos a casa em ordem, o quão importante é o Estado para a prefeitura". Serra também não quis responder de forma direta se, caso eleito, ficará até o fim da gestão. "2010 está muito longe. Nem você (referindo-se ao apresentador Chico Pinheiro) sabe onde vai estar", disse.

Depois das três ondas de ataques do crime organizado no Estado, o tucano disse que houve avanços na Segurança de São Paulo, mas que sempre haverá dificuldades. "Novos problemas apareceram. É sempre assim. Quando você resolve um problema aparecem outros", disse Serra. O tucano sinalizou que não manterá no comando da pasta de Segurança o atual secretário, Saulo de Castro Abreu Filho - que chegou a colocar o cargo à disposição caso o governo federal liberasse recursos ao Estado. Na semana passada, a União anunciou o repasse de 79 milhões. "Vai ser uma nova equipe em todas as áreas", disse.

Para credenciar-se como agente competente para resolver os problemas de violência, Serra lembrou de sua experiência frente ao Ministério da Saúde durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Eu já enfrentei multinacionais, já enfrentei países na questão dos remédios, já enfrentei laboratórios para colocar os genéricos. Vou enfrentar o crime organizado".