Título: Argentina cresce 8,4% no segundo trimestre; construção civil dispara
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 17/08/2006, Internacional, p. A11

A economia argentina continua acelerada. Cresceu 8,2% no mês de junho em relação ao mesmo mês de 2005 e acumulou expansão de 8% no primeiro semestre de 2006. Em relação a maio, o crescimento foi de 0,4%. Os dados fazem parte da Estimativa Mensal de Atividade Econômica (Emae), uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) calculada pelo Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos).

Em termos dessazonalizados (ou seja, eliminando o efeito de férias, datas comemorativas, etc) a atividade econômica do país cresceu 8,4% no segundo trimestre de 2006 (em relação ao mesmo perído de 2005), acima dos 8,1% do primeiro trimestre.

Os motores da expansão foram o forte ritmo da construção civil, da indústria automobilística e do setor exportador. O Indec informou ainda que as exportações do país atingiram US$ 11,786 bilhões no primeiro semestre de 2006, com alta de 10,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A construção civil é o que mais cresce. Nos seis primeiros meses do ano, o setor acumula expansão de 26,5%, sendo 31,7% só em junho. E pode crescer ainda mais, se funcionar um pacote de medidas de estímulo à aquisição da casa própria anunciado ontem pela ministra da Economia, Felisa Miceli. As medidas incluem a permissão para que os bancos financiem até 100% das residências de valor até 200 mil pesos (US$ 66 mil), e 90%, se o valor da residência estiver na faixa de 200 mil a 300 mil pesos. Os candidatos a empréstimos poderão dar ao banco, como prova de renda, recibos de aluguéis pagos, o que, espera-se, facilitará a entrada dos trabalhadores informais no sistema de financiamento imobiliário.

Para analistas argentinos, os dados do Emea são positivos. Mas eles estão cada vez mais preocupados com a falta de sustentabilidade desse ritmo de crescimento da economia e prevêem desaceleração ainda este ano. Aldo Abram, diretor da consultoria Exante, diz que a Argentina vem crescendo consistentemente na faixa de 8% a 9% desde 2003, estimulada pela retorno da confiança do consumidor após a forte crise de 2001 e 2002 e pela volta dos investimentos públicos, pessoais e corporativos.

Mas o ritmo desses investimentos está caindo. "A partir de agora, a economia vai desacelerar porque os investimentos estão caindo", disse Abram, que prevê uma alta de 7,8% do PIB do país este ano, contra 9% em 2005. Para 2007 e 2008, ele prevê crescimento ainda menor, 6% e 5% respectivamente.

"O indicador (Emae) é positivo, mas faltam investimentos [em infra-estrutura] e um dos temas mais críticos é o da energia", comentou o economista Alejandro Ovando, da consultoria Investigações Econômicas Setoriais (IES). Um relatório divulgado na terça pela Secretaria de Energia mostrou que a produção de petróleo no país caiu 3,18% no primeiro semestre, para 18,9 milhões de metros cúbicos, alimentando as suspeitas de que o ritmo de crescimento poderá colidir com a falta de capacidade energética em um futuro próximo.

Ovando alertou que há projetos de incentivo do governo a novos investimentos em petróleo e gás que estão pendentes de aprovação no Legislativo, e já há notícias de indústrias, no interior do país, que tiveram que suspender a produção por falta de energia.

Mauro Leos, analista de risco soberano da agência Moody´s, disse em Buenos Aires que a Argentina está vivendo um ciclo de hipercrescimento, resultado de condições favoráveis da economia global. Para ele, a expansão "exagerado" pode obrigar o país a um duro ajuste.