Título: Conflito aberto, só na internet
Autor: Nunes, Ivan ; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 23/10/2010, Política, p. 2/3

Petistas e tucanos recomendam que a militância arrefeça ânimos e guarde críticas abertas para o mundo virtual

O PT e o PSDB passaram as últimas 48 horas monitorando as perdas e os ganhos resultantes das agressões físicas aos dois candidatos a presidente, José Serra e Dilma Rousseff. E ambos chegaram ontem, no fim da manhã, à mesma conclusão: ninguém ganha votos com a chamada ¿baixaria¿. Por isso, a ordem repassada a militantes tucanos e petistas foi no sentido de não cair em provocações na rua. No caso do PT, a própria Dilma, numa reunião do seu comando de campanha ontem pela manhã, em Brasília, deu ordens para que houvesse uma recomendação aos coordenadores no Rio de Janeiro no sentido de evitar provocações a Serra na programação que o candidato terá domingo na cidade.

Os petistas fizeram várias reuniões para avaliar o confronto. Na quarta-feira, antes de as imagens do SBT mostrarem que Serra tinha sido atingido por uma bolinha de papel, tinham concluído que os militantes passaram dos limites e era preciso um controle maior. Na quinta-feira, quando surgiu a versão do SBT sobre o episódio, o comando dilmista ficou eufórico. Embalados no discurso de Lula, que comparou o candidato ao goleiro chileno Rojas e diante do sucesso de ¿serrarojas¿ no Twitter, acharam que a batalha estava ganha. Mais tarde, depois que o Jornal Nacional mostrou duas cenas distintas ¿ a da bolinha de papel e a de um objeto mais pesado que teria atingido o candidato na cabeça ¿ a luz amarela voltou a incomodar o comando petista. Em especial, porque começou a pegar na internet a onda ¿Lula mente¿.

Ontem pela manhã, numa primeira reunião entre João Santana, coordenador de marketing, e o pessoal que monitora a internet, a conclusão foi a de que, na madrugada, os militantes petistas empataram o jogo ao lançar na rede o lema ¿Globo mente¿. Essa avaliação foi levada para a reunião onde estavam Dilma, Santana, Antonio Palocci, Gilberto Carvalho e outros. A maioria dos presentes ¿ entre eles, a candidata ¿ avaliou que isso não era suficiente. Houve quem sugerisse até mesmo que o presidente Lula voltasse ao assunto, mas prevaleceu a ideia de que ¿palavra dita não se volta atrás¿.

Os petistas, àquela altura, não tinham ideia de que os tucanos explorariam o episódio no programa eleitoral. Tanto que, na gravação para o programa ontem, nem Dilma nem Lula trataram das agressões. Confrontos não interessam a ninguém. Da nossa parte não houve, nem vai haver, disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza.

Trincheira O único terreno livre, em que o PT não pretende segurar os militantes, é a internet. Ali, no mundo virtual, a guerra está aberta. O PT montou inclusive uma central em Brasília, onde monitora as redes sociais e prepara conteúdos para serem replicados pelos militantes. Conseguiram, segundo ele, empatar. Enquanto os tucanos produzem um material 60% negativo para o PT e Dilma, os petistas chegaram a 52% de notícias negativas contra o PSDB e Serra. É aí que eles querem a batalha feroz, enquanto nas ruas esperam passar a imagem de paz e amor.