Título: Brizola Neto enfrenta disputas internas no Trabalho e no PDT
Autor: Klein ,Cristian
Fonte: Valor Econômico, 02/05/2012, Política, p. A11

O novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, assume com o desafio de aplacar disputas internas em sua pasta, que envolvem as centrais sindicais e em seu partido, o PDT.

Em sua passagem pelo evento de comemoração do 1º de Maio da Força Sindical em conjunto com outras quatro centrais (CGTB, CTB, UGT e NCST) em São Paulo, o novo ministro do Trabalho, Brizola Neto, reconheceu que a indicação de seu nome para a Pasta não era unânime no PDT.

Na segunda feira, os líderes do partido na Câmara, André Figueiredo (RJ), e no Senado, Acir Gurgaz (RO), haviam afirmado que a escolha, ainda que acatada pelos correligionários, havia sido da presidente Dilma Rousseff, e não do partido.

Brizola disse acreditar em um partido unificado a partir de agora. "É natural, no processo de escolha de um ministro, que surjam preferências", afirmou. "O PDT agora tende a marchar pela unidade e a maior preocupação é com o programa de governo da presidente Dilma Rousseff."

Presente ao evento, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, preferiu não comentar um possível descontentamento dentro do PDT com a decisão. "Quem escolhe o ministro é a presidente Dilma", declarou. "Respeitamos a bancada do PDT e vamos fazer de tudo para estarmos ainda mais próximos."

Mais tarde, porém, na festa da CUT, Carvalho reconheceu que a indicação de Dilma "causa uma série de problemas ao PDT", mas que "nossa tarefa agora é costurar o apoio" da legenda.

Já o presidente da Força Sindical, deputado federal e pré-candidato do PDT à Prefeitura de São Paulo, Paulo Pereira da Silva (o Paulinho) considerou importante a nomeação de Brizola Neto, para um ministério "muito simbólico" para seu partido. "As centrais sindicais confiam em você, apesar dos 33 anos de idade", disse o deputado ao novo ministro.

Brizola Neto desgastou-se no PDT durante a crise envolvendo o presidente da sigla, Carlos Lupi. Ex-ministro do Trabalho, Lupi deixou o cargo sob suspeitas de irregularidades. Com a divulgação de denúncias contra o então ministro, Brizola Neto teve atuação crítica a Lupi e tentou se viabilizar junto às centrais sindicais para assumir a Pasta.

Outros nomes foram apresentados pelo partido para o cargo, como o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, que, apesar de ter apoio da cúpula, não tinha o aval de Dilma. O deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) também foi cogitado, mas não se viabilizou na bancada nem com o governo, principalmente depois de ter votado contra o Funpresp.

Em seu discurso para os trabalhadores, Brizola Neto reforçou a importância do crescimento econômico com a manutenção dos direitos trabalhistas. Prometeu uma gestão voltada às relações do trabalho, priorizando o crescimento da produtividade mas sem retirar os direitos dos trabalhadores. "Esse aumento da produtividade não pode ser feito às custas do sacrifício do direito do trabalhador", resumiu. "A mudança na folha de pagamentos é um exemplo de medida já adotada pelo governo para permitir o crescimento da produção sem atingir os direitos". O ministro acrescentou que o debate sobre a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais está entre as prioridades de sua agenda.

O discurso em torno das prioridades da Pasta unifica mais as centrais sindicais do que a ocupação dos seus cargos-chave. Dadas as ligações do PDT de Brizola Neto com a Força Sindical, é esperado que a CUT venha a ocupar a secretaria-executiva do ministério.

O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, no entanto, negou ontem que o cargo de secretário-executivo, espécie de vice-ministro, do Trabalho, venha a ser ocupado por seu assessor, José Lopez Feijóo, da CUT. "Ele está muito bem conosco, não vai", disse.

O desgaste do PDT frente à pasta foi mencionado ontem de forma indireta pelo ex-presidente da CUT e ex-ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), hoje prefeito de São Bernardo do Campo.

Ao participar ontem das comemorações promovidas pela CUT em São Bernardo do Campo, Marinho disse que Brizola Neto deve ter como principal tarefa em sua gestão à frente da Pasta o resgate da "moral e da autoridade do ministério, que se esvaziou bastante nos últimos anos".

Para Marinho, a agenda do ministério deve estar focada na retomada de programas de qualificação e treinamento da mão de obra. "Temos vagas em aberto e pessoas em busca de emprego, o que sugere que falta qualificação", disse durante evento para comemoração do 1º de Maio no ABC. Sergio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, faz a mesma avaliação e diz que a pasta terá que recuperar atribuições que foram pulverizadas durante o período em que passou sem ministro. "A Dilma demorou demais para fazer a indicação", afirmou.