Título: Balanço expõe debate sobre as provisões
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2006, Finanças, p. C2

O debate a respeito da adesão dos bancos brasileiros aos padrões contábeis internacionais foi antecipado no primeiro semestre. Uma das principais diferenças entre as regras adotadas no Brasil e a fixada pela International Accounting Standards Board (Iasb), refere-se às provisões para crédito.

De modo simplificado, no sistema usado no Brasil, estabelecido pela Resolução 3.682, do Banco Central (BC), os créditos são enquadrados conforme os dias de atraso dos pagamentos, em uma escala de rating com nove classificações, que começa em AA, sem atraso nenhum, e vai até H, com 180 dias de atraso. Conforme o rating de cada crédito, um percentual de provisões deve ser feito.

Já pela norma do Iasb, as provisões são feitas conforme a perda esperada no futuro, de acordo com a experiência de cada instituição.

"Os conceitos e os sistema de apuração das provisões são diferentes, embora, em tese, o volume de provisões dos bancos não deva mudar muito em função do padrão utilizado", afirmou Edison Arisa Pereira, responsável pelo grupo de bancos (GT 1) do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon).

O Banco Central já anunciou, em março, que vai aderir às normas internacionais gradualmente, até 2010. Até o final do ano, as mudanças necessárias serão identificadas.

No entanto, uma discussão sobre a baixa para prejuízo de um certo volume de créditos do Banco Itaú mostrou que ainda há uma grande distância entre as regras atuais e as futuras.

O Banco Itaú tem por política baixar para prejuízo ("write off") operações cuja recuperação considera remota, baseado em sua experiência e conhecimento do mercado. Mas, neste semestre, o BC exigiu que cumprisse a regra da Resolução 3.682, que diz que o crédito tem ficar na classificação H por 180 dias antes de ser baixado como prejuízo.

Para manter de alguma forma a prática, porém, o Itaú, certo de que as operações eram de retorno remoto, resolveu fazer a cessão de R$ 1,244 bilhão em créditos para uma securitizadora do próprio grupo. Segundo o diretor de controladoria, Silvio de Carvalho, eram nada menos que 857 mil operações de crédito de varejo, com um valor médio de R$ 1,4 mil, de recuperação muito improvável. Se houver alguma recuperação, o resultado volta para o banco porque a securitizadora está abaixo dele.

A carteira foi vendida pelo valor de R$ 184,948 milhões. Caso tivesse mantido o procedimento anterior, teriam sido baixados a prejuízo R$ 291,811 milhões, o que reduziria o saldo da carteira e da provisão em igual montante, sem qualquer efeito no resultado. Por conta desse novo procedimento, disse Carvalho, o Itaú fez provisões adicionais de R$ 100 milhões.

O procedimento também influi nos índices de inadimplência e cobertura do banco. No primeiro semestre deste ano, o Itaú registrou um forte aumento na inadimplência das operações de varejo o que levou a instituição até a desacelerar o ritmo da financeira do grupo, a Taií. De toda forma, as operações de crédito para pessoas físicas saltaram 49% em doze meses e 10,3% no segundo trimestre, atingindo R$ 33,992 bilhões em junho passado.

A inadimplência da carteira de pessoa física subiu de 6,5% no final do ano passado para 7,1%; a Se o Itaú tivesse mantido seu critério, a inadimplência do crédito para pessoas físicas teria atingido 8,1%; e a média da carteira estaria em 5,1%.